19/04/2012 - Posse de João Otávio de Oliveira Macêdo


Fragmentos do DISCURSO DE POSSE DE JOÃO OTÁVIO DE OLIVEIRA MACÊDO
NA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA ‒ ALITA
Em 19 de abril de 2012

"Nesta cálida noite outonal encontramo-nos neste recinto universitário para festejar o primeiro ano de vida da Academia de Letras de Itabuna, forjada e solidificada por pessoas que querem bem à cidade, querem bem às letras, à cultura e não aceitavam Itabuna, pela sua importância no seio da região cacaueira, sem a sua Academia de Letras. Uma vida não basta ser vivida, precisa ser sonhada, nos dizia Mario Quintana e Marcos Bandeira, Cyro de Matos, Eduardo Carlos Passos e tantos outros não perderam a esperança nesse desiderato; Manuel Bandeira bradava: “Ah, como dói viver quando falta a esperança". E assim, a 19 de abril de 2011 nascia a Academia de Letras de Itabuna tendo corno patrono um filho ilustre do Pirangi de outrora, hoje Itajuipe, o escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, Adonias Filho, Nasceu a nossa Academia itabunense, para promover as artes, a literatura e as ciências humanas nas suas mais diversas manifestações, tal como diz o seu estatuto, encontrando-se fincada em nossa vida cultural porque nascida de um sonho e tornada realidade pela perseverança de homens e mulheres que acreditam no poder criativo e reformador da verdadeira cultura, patrimônio maior de qualquer povo.

A Academia trouxe, e trará, para o seu seio, aquelas pessoas que se preocupam com as coisas da cultura, com a ensino, o aprendizado como um todo porque só assim teremos uma sociedade mais igualitária. Poderá, e deverá ser.atuando no plano local, mais um instrumento que contribuirá para melhorar os padrões de educação do povo brasileiro, muito aquém de nações economicamente mais fracas. Tentaremos seguir os passos do nosso patrono, figura maior nas letras brasileiras e orgulho deste pedaço do sul da Bahia."

Recebi, com um misto de alegria e humildade, a correspondência do nosso presidente Marcos Bandeira dando-me como um novo membro desta Arcádia ltabunense, acrescentando que ocuparia a cadeira de número 30 cujo patrono é Helio Nunes da Silva. Fácil falar de Helio Nunes da Silva, mais um sergipano que veio engrandecer a sociedade local,dando razão a Hermes Fontes que bradava, alto e bom som, que Sergipe exporta talentos.Comunista convicto, até os seus últimos dias, Helio foi jornalista, poeta e homem envolvido em todas as atividades culturais da cidade. Éramos amigos e discutíamos muito, principalmente às tardes, quando nos encontrávamos no então único Ponto onde a mocidade marcava ponto, o velho jardim da Praça Olinto Leoni, conhecida, à época, como Praça da Prefeitura. Helio pediu-me para o substituir como subsecretário da então Escola Técnica de Comércio de ltabuna, que acabou sendo o meu primeiro emprego'. Numa fria noite invernal de 1960, chega Helio Nunes na Secretaria da referida escola e convida-me para irmos até o Lord Hotel onde se encontravam Jorge Amado, Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir e, assim, pude ver de perto, aquelas três figuras maiores da literatura universal. O casal francês foi trazido por Jorge Amado para conhecer a região cacaueira, motivo de inspiração para muitos de seus famosos romances. Cheguei a fazer alguns artigos para o jornal dirigido por Helio Nunes até, para um jornal de Itajuipe, de propriedade de seu sogro, também comunista como ele. Estou falando sobre as preferências políticas de Helio Nunes porque ele era autêntico; conheci-o nos anos cinquenta e a amizade perdurou até a sua morte, nos anos setenta, quando já não residia mais em Itabuna.

Assim, tenho um patrono da cadeira que passarei a ocupar nesta Academia e recebo a saudação, em nome dos componentes desta casa, nada mais nada menos do que Sonia Carvalho de Almeida Maron, esta mulher que tem o reconhecimento de toda a comunidade itabunense, pelo seu brilho intelectual e pelos cargos relevantes que ocupou na judicatura baiana; só não entendemos o porquê de não haver alcançado o cargo de desembargadora quando, quem sairia ganhando, seria o Tribunal de Justiça do nosso Estado."

"Modernamente, poetas, escritores e historiadores, como Telmo Padilha, Cyro de Matos,José Dantas de Andrade, Adelindo Kfoury Silveira, Valdelice Pinheiro e outros, também fizeram o seu canto de amor à nossa terra.Cyro cantou o velho campo da Desportiva Itabunense, palco de tantos embates futebolísticos e tantas festas estudantis.Aqui onde estamos, funcionava a velha estação da estada de ferro e parece que estou ouvindo o apito de Ferreira ordenando a partida da composição e, logo após, o apito lânguido e saudoso da . velha "Maria-fumaça". Bons tempos aqueles; festas de carnaval nas ruas e nos clubes; matinées nos cinemas da cidade com as inevitáveis paqueras. Esta Academia bem poderá reavivar muitos dos eventos culturais daquela época.

Sem ser poeta mas, apenas, um aprendiz de articulista, também me incluo entre os que querem bem a esta cidade, por vezes tão maltratada. Nasci na rua Né Abade, filho de Octavio Moreira de Macedo e Lindaura de Oliveira Macedo, que não me deram, apenas, a vida, também o norte e a fortaleza para enfrentar, como dizia Schopenhauer, as dores do mundo. Estudei com o temido professor Everton Alves Chalupp e suas famosas réguas que descarregava, com força sem dó nem piedade, no traseiro dos alunos que cometiam algum deslize, por menor que fosse. Fiz o curso ginasiano, como falei anteriormente, no velho Divina Providência e, já aos 16 anos enveredei pelos meandros da matemática,.matéria que lecionei, em quase todos os ginásios da cidade, até quando . fui estudar medicina. Vejo aqui............................................... O gosto pelo ensino da matemática foi continuado pela minha irmã Carmita. Também fui secretário da então Escola Técnica de Comércio de Itabuna, dirigida por Nestor Passos e lá convivi, com outro homenageado desta Academia, Plínio de Almeida; com os dois aprendi muito; datilografava os discursos de Nestor Passos e hoje, quando ouso incluir alguma citação latina, foi dos tempos da convivência com Nestor e Plínio, dois santamarenses que trouxeram para a região do cacau, a sabedoria e a cultura do recôncavo. Fui cursar medicina. na vetusta Faculdade de Medicina da Bahia, a primeira escola de nível superior do país e que no dia 18 de fevereiro de 2008 completou 200 anos. O curso de medicina não me contemplou apenas com o diploma de médico mas me propiciou a felicidade de conhecer a minha querida Zina, numa convivência que dura 49 anos, sendo 42 de casamento, com três filhos e seis netos. Parece que atentei, bem, para a canção interpretada por Osvaldo Fahel quando enaltecia a "morena bela do Rio Vermelho", bairro onde Zina nasceu e viveu muitos anos.

Hoje já sofremos a ação da pátina do tempo mas seguimos o conselho de Montaigne quando diz que devemos tomar cuidado para que a velhice não nos enrugue mais o espírito do que o rosto.Somos cúmplices, tal como no dia do casamento, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.

Retornei à minha terra em 1970, ao lado de Zina, para o difícil começo da vida profissional; um especialista nas doenças do aparelho genito-urinário e uma pediatra. Para colaborar com a educação na cidade, pela falta de professores, àquela época, ainda lecionei , por sete anos física e química, em vários colégios. Por 12 anos dirigi os hospitais da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, levado por Calixto Midlej Filho; recebi honras indevidas desta instituição, por excesso de bondade dos provedores Silvio Porto de Oliveira e José Renan Moreira, e, até hoje, humildemente, externo meus agradecimentos. Durante 26 anos atuei como perito médico-legal, nos quadros da Secretaria da Segurança Pública do Estado e, durante 36 anos, exerci a cirurgia. No presente, além do consultório, praticamente trabalho com os pacientes renais crônicos, desde 1978.

Na imprensa, comecei aos 16 anos na extinta Voz de Itabuna, na época tendo como redator-chefe Cristovão Crispim de Carvalho. Por esse jornal também passaram Helio Pólvora e Teimo Padilha; fui redator-chefe do jornal. O Estudante, órgão da União dos Estudantes Secundários de Itabuna (UESI) e continuo aprendiz de articulista nos jornais Diário Bahia e Agora. Juntamente com o meu filho Márcio, durante alguns anos apresentamos um programa radiofônico, intitulado 'Aquarela Nordestina", onde contamos várias histórias, a maioria 'do nordeste e enaltecemos seus compositores e cantores, principalmente o maior deles, o sempre citado e insuperável Luiz Gonzaga.

Fiz incursão na política mas é uma página que não me dá grande alegria a não ser pela consciência do dever cumprido e pela certeza de haver trilhado o caminho da decência no cuidado com a chamada res pública.
E aí está, senhoras e senhores, um breve relato da vida deste itabunense que hoje alcança o píncaro da cultura nesta terra, adentrando a Academia de Letras de Itabuna, mais pela bondade dos "meus novos pares do que pelos meus méritos. Externo meus agradecimentos a todos e peço, para encerrar, mais um pequeno tempo para citar os versos do poeta baiano Bráulio de Abreu:

Eu quero a vida com sonhos
Eu quero sonhos com vida
Não quero a vida sem sonhos
Não quero sonhos sem vida.
Nos dias de grande lida
Os instantes mais risonhos,
São sempre cheios de vida,
São sempre cheios de sonhos.
Essa vontade mantida,
Com muita vida com sonhos
É porque os sonhos têm vida
E porque a vida tem sonhos.
Que viva a vida com sonhos,
Que viva os sonhos com vida
E morra a vida sem sonhos.
E morra os sonhos sem vida.



Fonte: http://saber-literario.blogspot.com.br/