ALGO INUSITADO - Florisvaldo Mattos



ALGO INUSITADO
Florisvaldo Mattos


Amigos:

Saio para algo inusitado, nos tempos de hoje, de Salvador e Bahia: vou entabolar uma conversa com estudantes do curso secundário de um colégio do Itaigara sobre poesia. Na verdade é a sequência de idêntica reunião ocorrida em julho na Academia de Letras da Bahia, de que participaram, além de mim, a poeta Myriam Fraga e a escritora Gláucia Lemos. Simples: um grupo de estudantes leram livros nossos e escolheram poemas (meus e de Myriam) e contos (de Gláucia), refletiram, tiraram suas conclusões e resolveram expô-las aos autores e discutir com eles forma e conteúdo. Na reunião de hoje, o foco são poemas meus do livro "Poesia Reunida e Inéditos", lançado em 2011. Querem esses jovens, entre 16 e 17 anos, conversarem e discutirem assuntos de poesia. Considero isto um fenômeno urbano alvissareiro. Mostra que, de um certo modo e em certo momento, a juventude resolveu dobrar a esquina do axé-music e outros babados culturais e se interessar por questões do espírito, envolvendo letras e artes, neste caso a poesia, como um novo horizonte de cogitações, conhecimento e reflexão. E não é só isso. Há pouco, recebi uma consulta, por e-mail, de um jovem, que escolheu um soneto do mesmo livro ("Campesino"), querendo saber o porquê e o que eu quis dizer, quando o escrevi. Desde os anos 50 que não vejo este procedimento entre jovens. Realmente, é um fenômeno por demais alvissareiro.

Salvador, 25/09/2012