ATÉ QUANDO?
*João Otávio Macêdo


"Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus..."

Com estes versos fantásticos, o inigualável poeta baiano Antonio Castro Alves bradava contra aquela ignomínia monstruosa que era o tráfico de negros trazidos da mãe África, naqueles porões imundos nos navios Negreiros, para o trabalho escravo em terras do novo mundo. Isso é uma página virada, triste, na história do nosso país. Não temos mais a nódoa da escravatura, mas estamos convivendo, já há alguns anos, com essa violência que nos assusta, nos aprisiona, muda os nossos costumes e não sabemos quando irá melhorar.
Já são mais de cem homicídios contabilizados no mapa do crime em nossa cidade, a maioria envolvendo brigas de gangues por causa do tóxico, colocando o nosso município como um dos mais violentos no país. Triste estatística!
O fato não é novo e me recordo bem que, em 1987, foi realizado um seminário, em um dos auditórios da CEPLAC, para discutir o tema violência que já, àquela época, nos preocupava. A situação só fez piorar, de lá para cá. Diariamente somos bombardeamos com notícias alarmantes e, na semana passada, culminou com aquela cena típica dos filmes sobre o faroeste americano, com bandidos infernizando um bairro local, terminando com o assassinato de uma criança de apenas quatro anos que dormia em um quarto simples de sua humilde residência. O ocorrido teve repercussão nacional. Que não se culpe a polícia por tal ocorrência; a polícia, tanto a militar quanto a civil, cumpre o seu papel. Há causas complexas atrás desses acontecimentos que, enumerá-las, seria cansativo. Mas há algumas que vamos comentar e que peço a análise do prezado(a) leitor (a).
Há dois menores, em nossa cidade, homicidas confessos e perigosíssimos, que debocham da polícia quando são presos porque sabem que, imediatamente , serão soltos; é a brandura das nossas leis que deram, aos malfeitores, mais um alento, nos últimos dias, com a súmula do Superior Tribunal de Justiça determinando que um menor traficante só poderá ser preso quando for detido pela terceira vez; nas duas vezes primeiras deverá ser entregue aos pais. Será que têm, mesmo, pais?
Com isso aumentará a utilização desses menores infratores nas mãos dos infratores adultos.
Com a introdução criminosa da "vassoura-de-bruxa" nos nossos cacauais, houve, como todos sabem, um êxodo rural em demanda às periferias das cidades; são jovens que vieram com suas famílias e não encontram trabalho sendo, facilmente, cooptados pelo tráfico do tóxico; trata-se de um fenômeno sócio-econômico que joga mais lenha no fogaréu da violência.
A escola em tempo integral, e de boa qualidade, seria uma alternativa para retirar essa juventude do crime; o incremento dos esportes também daria uma boa contribuição; as nossas leis esdrúxulas proíbem um menor de ser aprendiz, como se via outrora, em oficinas ou em outro tipo de trabalho em um turno só, com o outro sendo utilizado na escola. O jovem não frequenta a escola, mas aprende as mazelas da vida, na ruas e nas praças, cheirando cola, fumando crack, assaltando e matando. Mas, trabalhar, não pode. Como se o trabalho matasse ou desvirtuasse alguém. Bela hipocrisia.
E assim vamos vivendo e convivendo com esses dias difíceis, sob a assombração da violência. Está faltando um Castro Alves para transformar em versos, o cotidiano da civilização do século vinte e um. Até quando?

* João Otavio Macedo é membro da Academia de Letras de Itabuna - ALITA