O GLAMOUR DA MEDICINA E A DURA REALIDADE - João Otávio Macedo









*João Otávio Macedo



Todas as profissões são necessárias e reconhecidas, desde que praticadas com competência, seriedade e ética, contudo, no seio da juventude, a medicina se apresenta como a mais glamourosa e a mais disputada em todos os exames de admissão às universidades, no Brasil inteiro e em boa parte do mundo. Todos os cursos preparatórios esmeram-se em apresentar, seja na imprensa, seja em out-doors, resultados mostrando jovens que adentrarão, em breve, as conspícuas salas das faculdades de medicina, ofuscando, muitas vezes, estudantes que também brilharam, nos exames, para outras áreas das atividades humanas. Muitos anos atrás, as carreiras universitárias mais concorridas eram, a já citada medicina, engenharia e direito. Nos dias atuais, outras áreas do ensino universitário têm atraído a atenção da juventude, mas a medicina ainda se encontra em primeiro lugar.
Isso chamou a atenção de empreendedores na área da educação, que resolveram criar escolas de medicina, particulares, quando, até pouco atrás, só havia as governamentais. É um excelente negócio, para os proprietários, fundar uma escola de medicina e, tanto isso é verdade, que, em 18 anos, o número de escolas médicas pulou de 83 para 197 e, destas, 114, ou seja 58 %, são privadas. Só no ano passado, 2012, foram criadas 11 novas escolas de medicina, sendo 9 privadas. Temos, no Brasil, portanto, 197 escolas de medicina, só perdendo para a Índia; países como os Estados Unidos da América e a Rússia, têm menos escolas que nós, apesar de uma população bem maior. São 17.000 novos médicos lançados, no mercado de trabalho, a cada ano, em nosso país, que ostenta, segundo dados do Conselho Federal de Medicina, cerca de 370.000 médicos atuando no Brasil, número suficiente para atender toda a população, caso não houvesse uma concentração de médicos em algumas regiões e, número menor e insuficiente, em outras. A disputa por uma vaga, na medicina, é tamanha, que a televisão mostrou, recentemente, a compra de um ingresso, mediante fraude, em alguns casos custando 60 mil reais, fato lamentável sob todos os pontos de vista.
Mas não tem sido fácil a vida do médico, pelo menos para a maioria, nos últimos anos, por causa das transformações ocorridas no atendimento à população; para considerável parte dos profissionais da medicina, a carreira deixou de ser liberal, passando a depender de empregos embora, em algumas especialidades e em alguns lugares, ainda prevaleça o principio da liberalidade. Foram muitas as transformações ocorridas a partir da década de sessenta, no século passado, dando uma nova conotação na atividade do (a) médico (a). Isso tem causado tanta confusão que as entidades médicas, Conselho Federal de Medicina à frente, têm lutado pela implantação da carreira de Estado para o médico; o assunto vem rolando no Congresso Nacional há alguns anos. Tratar melhor o médico, que passaria a não depender de vários empregos pessimamente remunerados, mantendo-o no local de trabalho o tempo necessário para um melhor atendimento. Todos sairiam lucrando.
Os meios de comunicação têm mostrados, diariamente, os problemas que ocorrem nos postos de saúde e nos hospitais; queixa-se da ausência do medico, em faltas consecutivas, justamente porque está correndo de um emprego a outro; recentemente a televisão mostrou dois fatos estarrecedores: em um, o diretor de um hospital, em São Luiz do Maranhão, apelava para a população doar alimentos para os pacientes e, em outro, na formosa capital potiguar, Natal, um cirurgião convocou a imprensa para mostrar que estava com o tórax de um paciente aberto e não tinha como fechá-lo, pois faltava fio de aço para o procedimento; acrescente-se que o cirurgião em pauta, era o presidente do Conselho Regional de Medicina local.
Esses fatos servem para mostrar, ao futuro profissional da medicina , que nem tudo são flores, como canta a imaginação e alguns setores da mídia. É duro o exercício da medicina, a não ser para os que esquecem o juramento de Hipócrates, deixando de lado os preceitos de ontológicos que norteiam a profissão.


*João Otávio Macedo é médico e membro da ALITA