HÉLIO PÓLVORA, ESCRITOR GRAPIÚNA, FALA SOBRE LITERATURA BRASILEIRA

 

HÉLIO PÓLVORA, escritor grapiúna
 


Hélio Pólvora (02/10/1928) costuma identificar-se como "um pobre homem de Itabuna", parodiando Eça de Queiroz. Diz também que saiu do "ventre dos cacauais".
Pólvora aprendeu as primeiras letras com a mãe, decifrando manchetes de jornais. Mais adiante leu a pequena biblioteca familiar, fez o curso primário na cidade e o secundário, a partir de 1942, em Salvador, Bahia. Voltou à sua aldeia em 1947, praticou  jornalismo em Voz de Itabuna, um semanário, e em 16 de Janeiro de 1953 chegava ao Rio de Janeiro – cinco dias antes da morte de Graciliano Ramos, com quem pretendia conversar. Passou por quase todas as redações cariocas, assinou rodapés de crítica literária e iniciou-se na prosa de ficção. Retornou à Bahia após 32 anos, onde dá prosseguimento à criação de obras literárias.


Leonardo Campos – É uma pergunta que está se tornando trivial, mas creio que seja fundamental fazê-la: segundo sua visão experiente com a literatura, ainda há espaço para a mesma na vida das pessoas após toda essa revolução tecnológica em que estamos inseridos?


Hélio Pólvora – Creio que ainda há espaço, neste nosso mundo globalizado, alienado, hedonista. Mas os escritores de tutano, outrora apontados nas ruas como celebridades, outrora competidores de atrizes e divas na mídia, vivem hoje em catacumbas, sem rádio de pilha e muito menos telefones móveis. Encontram-se ao redor de fogueiras e, acocorados, leem entre si o que escreveram na pedra. Mais do que nunca, a literatura é doença, é fatalidade.


LC – Em sua opinião, quem é o melhor representante da literatura brasileira de todos os tempos?

HP – Machado de Assis, um mulato pobre, autodidata, que aprendeu a escrever. E como! Não há outro. Este, no conto, está à altura de Edgar Allan Poe, Maupassant, Tchékhov. E deixou três romances que marcam presença no ficcionismo daquele século.


LC – Baseado em textos e algumas entrevistas suas, nota-se certa admiração pelo escritor Graciliano Ramos. Isso é fato ou apenas coincidência?

 
HP – Graciliano é o expoente do romance de 30. Com a virtude suprema de ter avançado do regionalismo estreito para os desfiladeiros da arte psicossocial. É verdadeiro, enxuto, expressivo. Com grande economia verbal, dá lições de densidade, de significados.


LC – Como o senhor classifica as adaptações de obras literárias? Acredita que adaptações colaboram com a disseminação e facilitação dos textos para a sociedade?


HP – Adaptação de obra literária será sempre uma “leitura” particular atribuída ao roteirista. É a visão dele, que não será necessariamente a do autor, nem a do leitor-ouvinte- espectador. Mas, em país de leitores escassos, as adaptações ajudam a empurrar a literatura goela abaixo, a divulgá-la. Uma advertência, porém: existem adaptações criminosas, que falseiam e deturpam. Melhor ficar com o original. Eu só admito adaptações para o teatro e o cinema.


LC – Quem o senhor não indicaria como boa leitura hoje?


HP – Ah, muitos escritores... Mas há muito, muito mais escritores do que leitores. Não tenho tido muito tempo para os escritores novos, senhores de descobertas e conquistas, muitos deles, com o advento da internet, excelentes copistas. O mais detestável, no entanto, é essa literatura de auto-ajuda, além do famigerado best-seller. Isso contribui para imbecilizar ainda mais a sociedade.


Entrevistador: Leonardo Campos / UFBA 



Vídeo sobre Machado de Assis - Patrono de Hélio Pólvora na ALITA