POESIAS COM SABOR DE CACAU E VASSOURA-DE-BRUXA - DIA INTERNACIONAL DO CACAU

 


O Dia Internacional do Cacau é comemorado anualmente em junho. Neste ano, a CEPLAC irá comemorar no dia 16.
O tema deste ano será “Consolidando a autossuficiência" com sustentabilidade”, numa referência ao sucesso do que foi proposto pelo órgão no ano passado – “Autossuficiência com sustentabilidade”.
O evento será realizado a partir das 9 horas, no auditório Hélio Reis (no Cepec), na sede regional da Ceplac, quilômetro 22 da rodovia Ilhéus-Itabuna.
O superintendente da Ceplac na Bahia, Juvenal Maynart disse que “a produção de cacau cresceu no país, especialmente na Bahia, o que praticamente garantiu a autossuficiência na produção de amêndoas para suprir a indústria em sua planta nacional. O objetivo agora é consolidar essa produção, sem esquecer da sustentabilidade, nos seus aspectos econômico, social e ambiental”.

A data foi criada em Turrialba, Costa Rica, em 1958, por sugestão do cientista americano Robert Fowler, durante uma conferência interamericana do cacau, que reuniu especialistas de todo o mundo. Tem o objetivo de promover a cultura, atualizar conhecimentos, trocar experiências entre pesquisadores, estreitar o relacionamento entre as instituições e homenagear os agricultores que mais se destacaram nos últimos doze meses.
O mundo civilizado só tomou conhecimento da existência do cacau e do chocolate depois que Cristóvão Colombo descobriu a América. Até então, era privilégio dos índios que viviam no Sul do México, América Central e bacia Amazônica, onde o cacau se desenvolvia naturalmente em meio à floresta. Hoje, quase cinco séculos depois, derivados do cacau são consumidos em muitas formas, em quase todos os países, e fazem parte da vida do homem moderno.


Fonte: http://www.ceplacpa.gov.br




   *CEPLAC
     Cyro de Mattos
Para José Haroldo Castro Vieira, em memória


Impede o declínio
No timbre nativo
Da memória e da raiz.
Tempo de longas mãos,
Malhas várias no verde,
O ouro mais ouro,
A safra mais safra
No que sou profundo.
Modernizar os usos,
Salpicada a terra.
Revertida a praga,
Afastando a noite
Que machuca as flores.
É o tempo que evoco
Maduro nos galhos
Arriados até o chão.
Este fruto na alma
Mesclado com força,
Visgo da vida e paixão.


*Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, órgão  criado pelo Governo Federal, em 1957. Este poema pertence ao livro Cancioneiro do cacau, Prêmio Internacional Maestrale Marengo d’Oro, Genova, Itália, 2002, e Prêmio Nacional  de Poesia Ribeiro Couto da UBE/Rio, em 1997





A vassoura-de-bruxa, mal que destruiu os alicerces econômicos de toda a região cacaueira no sul da Bahia, desde a década de 80, continua, após mais de vinte anos, a envolver os cacaueiros com seus tentáculos mortíferos afetando a produção do fruto. Aproveitando o ensejo, autores alitanos divulgam versos sobre o tema CACAU E VASSOURA-DE BRUXA: 





SONETOS DA VASSOURA DE BRUXA

*Cyro de Mattos


  
Ó morte quão amarga
É a tua memória.
Eclesiástico, 40-41


I

Julguei que seria esta a minha sorte
Desfrutar do meu trabalho no anel
Generoso de teus ramos. Do mel
Gozar todo o prazer até a morte.

Calo e calor em horas rastejadas
Encheram o meu sono de agonia,
Colher nuvens verdes e não ciladas
De tua luz sonora o que eu queria.

Só, nesse deserto, depois de muito
Arrastado entre sombras, fico vendo
No chão cinzas de tuas bruxas soltas.

De aflição sei, o sangue nas disputas,
A servos e donos do orvalho diga
O vento sobre aroma em terra amarga.

 

II


Pensei encontrar o paraíso nas
Terras do sem fim. Nas manhãs serenas
Frutos dourados. Verdejantes veias
Da vida retomada sem urgências.

Lá, no verde sem fim, perseverava
No velho aprendizado da utopia
Que me habita transpirando no hálito
De pesares e rumos da agonia.

Salpicado de flores, me queimava
Em teu sol forte, ardendo o pensamento
No ouro de tuas amêndoas. De tanto

Querer-te não reparti. De repente
Eis que me encontrei, nos meus rastros, triste.
Então vi nas mãos quanta solidão.


III
 . 
Vês morte no ar fendido por bruxas,
Aragem que na solidão despenca
Nostalgia, gargalhar incessante
Dos frutos já mortos.  Desfazer este

No espaço profundo que em tua alma há
Do animal ferido em face do mundo.
Estranho não habitar mais a terra
Dos frutos de ouro.  Nunca mais colher

Hábitos aprendidos com mãos crespas,
Peito molhado, vozes enfeitadas
De flor e chuva.  Diante de ti

Desalento e silêncio, estas sombras
Que te empurram através de desertos.
Como o vento nós mesmos não ficamos.


­­IV

Falo das léguas com sua música
Incandescente, da voz na crônica
Lendo as estações em torno das rumas,
Sonho que projetei dentro das brumas.

Falo do fervor na hora mais suada
Que me esparramava, do ter ávida,
Das trilhas pelo olhar que já não voa,
Dos atalhos que um respiro magoa.

Da alma na constante canção impressa
De nódoas, sumindo na velha queixa
Daquilo que entardece sobre manchas.

Agora sob cinzas, no desamor
Espalhado por vassouras-de-bruxa,
Calo-me sem saber para onde vou.*

 

*Soneto incluído na Antologia de Poesia  Contemporânea Brasileira, organizada por Álvaro Alves de Faria, Editora Alma Azul, Coimbra, Portugal.


V


Maior prova de que já não existo
Está nos ares desse triste vento
Onde bruxas com suas crinas soltas,
Ao cabo de vassouras pelas pontas,

Ceifam-me. Dias e noites sem dó
Cobrem de sombras, deixam-me no pó,
Lamenta o coração estremecido.
Perfuram verão de outrora habitado

Do verde constante naqueles frutos
De ouro, suor molhado de acalantos
Em que me pus bem dentro desse mito.

Maior prova de que já não existo
Emerge agora da agonia, eu no meio,
Tentando na memória ser exílio.


VI

 

Tive muitos navios. Eles todos
Sob o brilho das safras, carregados
Nas estações das colheitas douradas,
Os cascos incansáveis pelas ondas.

Dentro de mim aquele alegre apito
Das distâncias, trazido pelo vento
Que dos campos de chuva e flor chegava.
Ó alma, ó força, ó vida. Sustentava

Um país inteiro o tempo arrumado
Aos montes por mãos nas vagas do espanto.
Relembro esses navios no pesar

Que sou em mim. No percurso do azar
Por vassoura de bruxas habitado.
No ar ressecado do que sou de morto.


VII

Infame, miserável, tesconjuro!
Eu que dormi na c ama da caipora,
Engoli da mata o silêncio duro,
Nos confins desci das ancas da aurora.

Eu que no buraco o saci peguei,
Lobisomem no tiro derrotei,
No boitatá uma sela botei,
Com o teu esgar o que fazer não sei.

Eu que como menino só fiz rir
Quando os frutos de ouro no meu jardim
Vi, colho só dores dentro de mim.

Feitas, no ocaso, de flores queimadas
Por bruxas que não param de sorrir.
Nada sou nas vastidões desoladas.


VIII

Comi da bosta que o diabo  cagou.
Muitas vezes enfrentei o desamor
Duro da mata fechada, carreguei
Nas costas os espectros da noite. Andei

Com os pés estremecidos e mãos rachadas.
Tive para beber danações, doridas
Paisagens postas na mesa rústica,
Só pra te ver fruto de ouro na música

Dos deuses por mim roubada. Tudo enfim
Venci. C aça e caçador. Só  não sabia
Que o sol se levanta e pra laçar o dia

A noite vem.  Nada valho. Sei em mim
O inevitável que me varre pro canto.
De bruxas, cinzas ao vento, sou de fato.


IX

Dentro de mim ressoa uma nação.
O clima que vem dela nas raízes
Se alimenta em razão de verdes vozes
Do suor derramado pelo chão.

Houve tempo de dedos corroídos,
Duro clamor nos dias mais sofridos,
Cobra no inverno, bala no verão,
De cacau era a flor no coração.

Homem de saga molhada, sangrada,
O ouro vegetal vi sustentar toda
Essa nação enquanto pela estrada

O tempo dava voltas. Tudo agora
Se desfaz. Cai das folhas, insonora,
Essa flor murcha que a agonia gera.*


*O soneto IX foi  incluído na Antologia do Terceiro Encontro Internacional de Poetas, da Universidade de Coimbra, Portugal, com a versão para o inglês por Manuel Portela, poeta, tradutor e Doutor em Cultura Inglesa. E também na antologia Poesia do Mundo/3, organizada por Maria Irene Ramalho de Sousa Santos, da Universidade de Coimbra, Doutora em Literatura Norte-Americana.

  
X

Da mata treva que junto de ti
Retornas, o sol do espanto pálpebra
Abriu pra te ver nervos brabos de ânsia,
O acordar do mundo que estremeceste.

Do talho no espaço profundo a terra
Sangrando, do animal conhecedor,
Só, em torno dos dias mutilados,
Como o vento em face da vida dúbio.

Diante dos frutos de ouro apencados
Aroma dos céus conquistados, selva
De servos onde as noites estercam.

Ó flagelador de cantos no verde,
Essas bruxas penduradas nos galhos
Tu vês. Mãos gastas de varrer as cinzas.


###

*Cyro de Mattos é autor premiado no Brasil e no exterior.







 
BRUXARIA


Uma bruxa danada
passou por aqui,
com sua vassoura,
fazendo plim-plim.
Espalhou pó de pemba
nos cacaueiros,
acabou o dinheiro
dos fazendeiros,
deixou todo mundo
na quebradeira
da catarineta
do virabrequim.


Ruy Póvoas









CACAU CANTO CLAMOR
(Ao ontem verde com alma)

                                      Florisvaldo Mattos

                            A Jorge Amado, in memoriam



                            Um gran vuelo de cuervos mancha el azul celeste.
                                                                                   Rubén Darío (1905)

I
Na terra farta de frutos
sigo os rios.
Na árvore gorda de grãos
sorvo a seiva.

Vou, sim, vou.
Cacauais me amparam
de sol terroso,
de chuva rude.

Ó infinitude, áureo cosmo
prenhe de diálogos verdes,
depois safra de soluços.

Ressoando primórdios
de edênicas andanças,
a natureza sorria
abraçada com os homens.

Vale lembrar este tempo
em que a mata acordava.
Não se ouviam trombetas,
pulmões fortes, buzinas,
nem bodegas rurais,
nem sorrisos de moças   
ou violões seresteiros.
Sim, pássaros nos ninhos.
Lobrigam o abismo verde
ou músicos passeiam
sobre a clave dos ramos
de onde pendem sagüins
ou o jupará de amanhã.

(Ó natural semeadura de crenças.
Ó gestos noturnos que a selva oculta.
Ó dias de ontem nada temerosos).

Ali, sim, se estabeleceu aurora
De raízes jamais adormecidas.

II
Cegou-se o horizonte?
Nunca mais hei de ver
manhãs fecundas,
tardes dormentes,
noites que anunciavam
certezas do outro dia?
E as mudas, vingaram?
E as vozes, clamaram?

Sou um colecionador de sombras,
de veredas mortas, onde
mãos burocráticas impudicas
imprimiram
sobre caules, ramos, folhas
signos de amor ausente,
afrontaram
a memória do chão,
a de quem por ele transitou
com alma e sonhos perenes.

Um dia, dirão: acorde e parta,
as estradas de ontem se fecharam,
o ar de frescor apodreceu,
a água encheu-se de mercúrio,
as pedras são sobras de incêndio,
e só restou a mim para apagá-lo.
Mudo, fito o que não sou.
Perplexo, converso com o nada.

III
Da janela do trem olhos inúteis
refazem itinerário sob poeira,
bordejam  matas, coloridos montes,
morada de vozes e saltitantes rostos;
sonhos férvidos trafegam pelos
debruns da tarde, antes que a noite
chegue e me devolva migalhas de ontens,
meras sobras de metamorfoses.

Não te aconselho a chorar, quando passes
e mires o deserto de nutridas safras nem
o que se passou, o que, nítido e úmido,
nasceu, vibrou, viveu, tombou, morreu.
Homem, entende: todos quererão saber
o quem, o que, o quando, o como e o por quê,
de madura fatalidade e dor no sangue.

IV
Dirás que homens vieram na noite grande,
misturando longes, fomes e outros brados.
Alpercatas tiniam, dentes rangiam, calças
de mescla e brim ressoavam como bronze;
ávidas faces de crianças ecoam  maldições.
Os que vieram do Norte com chagas e sonhos,
guerreiros e santos em busca de água e pão,
mártires de pés rachados e barba por fazer;
do Norte, de Sergipe e Canudos, lapeados
de caatinga abrasante, e os mais de África rastros,
que obscuros vieram  também para ser donos
de terras sobre encostas e perambeiras únicos;
cambaleando na noite fantasmática,
esgueiram-se na selva contra os medos,
para emergir na terra solidária
banhados de suor e economia.
Sombra e dor no semblante, fecundos passos,
espalharam claridade em solo de durezas,
e logo a terra-úbere, à vasta luz abrindo-se,
vingou, gerou seiva, abençoada pelas estrelas. 

V
Dirás que homens outros também vieram,
descidos dos céus, chegados do mar, varões
de olhos claros, cabelos e sobrenomes feéricos,
terno engomado e gravata borboleta, eles,
fugitivos de guerras e derrotas, em Ilhéus
aportaram vontades e proas confiantes,
os Stevenson, os Wildberger, os Colavolpe,
os Scaldaferri, Kaufmann, Brussell, Zack Oack      
(longe, decifro gasto letreiro por sobre a ponte,
refletido em murmúrios de bagres e tainhas).
Em gabinetes e terraços, recendendo auroras
de mares remotos, tardes e noites gélidas,
plantaram experiência e formas de pensar,
com discretos modos de aprisionar os dias.
Potentes centauros desceram na hora unânime,
com galope febril, no despertar das águas,
vêm cobertos de auras, nostálgicos de neve,
que se acrescentam às barbas do Rio Almada,
invadem o Cachoeira, suplantam Rio de Contas.
Entraram vibrantes pelos riachos, avançaram
botas e sobre solidões assentaram portas,
para trocas atônitas que assanhavam manhãs.

Moveram aço e rodas, logo rotas de comércio,
inundaram distâncias com amêndoa e sacaria;
avivaram cassinos, ao som de polcas e foxes,
amores, bródios, com vinho e whisky perdulário.
Vilas dirão mais tarde para que vieram eles,
quando à noite se abrir a luz dos alfarrábios.
Se ventos zunem, balas zumbem, nuvens captam,
repercutem mensagens desta nova aurora.
Altos, avermelhados, ágeis, descendo rútilos,
chegaram com  tropel de notas promissórias:
uma luz cambial se propagará nas matas,
por onde seguem florescendo vozes e rastros.

VI
Fé e sol do Oriente, mel e flor dos oásis,
para trás o deserto, camelos e miragens,
reluzentes medinas, versos do Corão,
livres de turbantes, burkas e sandálias,
outros mais, mais outros, enfim dezenas,
vieram, por desejo de erguer e construir
o que a alma na carne gravara como dívida,
exsudando moeda e astúcia planejada.

(Tinham a carne igual à de centauros,
correndo na planície em cavalgada).

Vencem terras avaras e mares e vão unir-se
aos muitos que semeavam sóis junto dos rios
e, urdindo calendários com  luas generosas,
cavalgando manhãs e crepúsculos amenos,
trafegaram por horizontes e lá montaram
sociedade ecumênica de raças e línguas.

VII
De repente, na sucessão de colheitas amargas,
de fartos comboios com amêndoas apodrecidas,
de lágrimas e mãos em clamor estendidas,
estuário de sombras, dor e morte (sabemos),
em paisagem apropriada a corvos e desvarios,
da serra a fome, em corcovas, coalhando vales,
límpidas mentes dispostas a aplacar estios,
outros vieram, lépidos, com asfalto nas veias,
a reacender chama com  lábia e burocracias,
propalando siglas, ciência e metodologias,
químicas severas, mapas e árdua geometria,
metidos em trajes de rija e formal pertinência,
dizimaram crepúsculos, auroras acenderam.
Bocas espalham pelo ar com notas estridentes: 
a vida é bela, a morte tarda, sonhos vencem,
porque o que cabe ao sol, útil, da noite se ausenta.

Foi depois com o dia alto que o desastre veio.
Sobre águas, pedras, colinas, canoros córregos,
com saber das Antilhas ou nos Andes colhido,
à força de azoto, fosfato, cal e uréia, roubados
do fundo da terra aberta à ilusão e ao sonho,
áulicos derramaram a esconjurada lavra.
“Não há mal que sempre dure”, brada o jovem,
ante os lamentos do úbere enfermo canceroso.
“Nem bem que nunca se acabe”, rosnou o velho,
nos bruxuleios da noite que baixa inapelável.

   VIII        
                                                     
Acordo em alamedas tumulares,
conto círios de noites que se foram.
São pesadelos o meu patrimônio,
de horrores me basto comigo mesmo.
Converte-se o ar em tumba de canções,
Orlando, Sílvio, Chico, Ciro, Dick
passeiam entre antenas, folhas mortas.
Uma criança chorou, a mãe gritou,
o pai desesperou, o rádio calou,
e ele foi de ônibus para El Dorado
(disseram: lá ele é amigo de Deus,  
tem a sensação de terra prometida). 
Em São Paulo desceu, ganhou  salário.
Vai para a obra e morre eletrocutado.

IX
Adeus, dias claros de outrora, corolários
que vingaram  na terra de águas fartas;
adeus, mãos operosas que redimiram brenhas;
adeus, sonhos silvestres, semens de manhãs,
em campinas pejadas de música e cores;
adeus, meteorologias, verdades sazonais
de cochos e lastros cheios; adeus, chamas
de fornalhas ardentes noite adentro,
enfartadas de músculos e amêndoas,
tropas de burros subjugando lamaçais.
Adeus, trens de carga repletos de saudade,
avisai às quebradas, aos contrafortes,
à fieira de pássaros nos fios telefônicos:
debaixo da terra, estou  indo para o trabalho.
                                                         
X
Fulgurações de mel em cuias escorrendo,
sob o fresco das roças de pujantes frondes,
adeus. Morto, comprei passagem para o éden.
Lá, com amigos, quero encontrar a doce Anice,
a de olhos forjados em  veredas de infância, 
jambo de cabelos azuis e mãos de seda
e um jeito pré-rafaelita de sentar,
virar o corpo, os seios rijos, e mirar-me
por sobre abas da jindiba no alto da serra.
Adeus, tropas de lento passo nas ladeiras,
convosco dialogo em minhas noites insones;
adeus, tropeiros que ajeitavam peitorais,
nas íngremes subidas rumo ao infinito.
Desta fonte flui a essência de minha vida. 
                    



In Poesia Reunida e Inéditos; São Paulo: Escrituras Editor, 2011, pp. 308 a 314)