Por Aramis Ribeiro Costa
A
avaliação intelectual de João Ubaldo Ribeiro vem sendo feita de forma bastante
expressiva desde seu primeiro êxito literário, a novela Sargento Getúlio, ampliando-se grandemente com o monumental romance Viva
o Povo Brasileiro, livro que o consagrou, colocando-o definitivamente no
panteão da literatura brasileira, e alargando-se a cada obra lançada no
mercado.
Isso
deve continuar. A obra completa do autor d’O
Albatroz Azul, seu último romance, uma obra-prima cheia de sutilezas e
sugestões, integrará para sempre o catálogo daquelas permanentemente visitadas
pelos ensaístas, críticos e professores de literatura.
O
momento, porém, aqui na Bahia, pelo menos, não é de analisar ou estudar a sua
obra, mas de juntar depoimentos de todos aqueles que o conheceram em vida, e
que possam trazer aspectos novos, curiosos, mas principalmente esclarecedores
dessa personalidade marcante e altamente querida das nossas letras. Em outras
palavras: de reconstruir e preservar João Ubaldo, o homem, vivo.
Há
muito que dizer e escrever a esse respeito. A prova disso foi a sessão que
realizamos na Academia de Letras da Bahia no dia 24 de julho, a primeira sessão
ordinária após sua morte, na qual acadêmicos falaram informalmente sobre ele,
em depoimentos que deveriam ser escritos, tal a riqueza de informações.
Ouvimos
Cyro de Mattos, João Eurico Matta, Ruy Espinheira Filho, Myriam Fraga,
Florisvaldo Mattos, Carlos Ribeiro, Evelina Hoisel, Luís Antonio Cajazeira
Ramos e Joaci Góes, numa sessão que foi iniciada às 17 horas e estendeu-se por duas horas e
meia porque de fato precisávamos
terminá-la, já que, pela necessidade de depor e pela emoção dos depoentes,
continuaríamos ali, noite adentro, falando dele.
De
minha parte, quero testemunhar a alegria e a emoção de João Ubaldo ao ser
eleito para a cadeira número nove da Academia de Letras da Bahia. Seu discurso
de posse não obedeceu ao protocolo habitual da Academia, que determina a
homenagem a todos os antecessores.
Limitou-se a citá-los, detendo-se um pouco em Cláudio Veiga, seu antecessor
imediato, que ele conheceu pessoalmente e admirava.
Entretanto,
foi uma bela página de declaração de amor à Bahia, e confesso que a considero
um dos mais belos discursos de posse que ouvi na ALB com afirmações que me
tocaram profundamente, e não apenas a mim, mas a todos que ali estavam naquela
noite histórica, e o ouviram dizer, com sua voz grave e cheia, os olhos
iluminados pela emoção;
“Não
somos brancos, negros ou índios; somos baianos. Não pertencemos, no maior rigor
da palavra, a nenhuma religião, nem mesmo somos ateus; somos baianos. Não
pretendemos ser melhores que ninguém. Mas somos baianos.”
Uma
lição de baianidade, sem dúvida. Mas, sobretudo, uma página de larga
compreensão da civilização brasileira, e particularmente do universo
misterioso, encantador e singular do povo da Bahia, que escritores como Jorge
Amado, Vasconcelos Maia e ele próprio recriam com talento nas suas obras
imortais.
*Aramis
Ribeiro Costa é ficcionista e poeta. Presidente da Academia de Letras da Bahia.
Nessa condição deu posse ao Dr. Marcos Bandeira como presidente da Academia de
Letras de Itabuna (ALITA) na sessão solene de instalação, em 5 de novembro de 2011. O discurso que
pronunciou, na oportunidade, é histórico. É também membro correspondente da
ALITA.