Uma luz no fundo do túnel

                        


 Sônia Carvalho de Almeida Maron*

    
Será que a mensagem transmitida pelas manifestações acordaram a senhora que governa o Brasil? Será que o Cristo Redentor voltou os olhos para o seu povo? Será que o Senhor do Bonfim decidiu provar que não existe “senhor do bom princípio”? Por quê? Ora, se um professor titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), Renato Janine Ribeiro, doutor em Filosofia pela USP, com mestrado em filosofia pela Sorbonne, educador independente, ficha limpa, sem filiação a partidos políticos, autor de dezoito livros, Prêmio Jabuti em 2001 na categoria de ensaios, assume o Ministério da Educação ocupando o lugar antes confiado a um Cid Gomes qualquer, ainda brilha uma luz na “pátria educadora”.

         Tudo indica que a presidente, ao perder muitos quilos de peso, vai recuperando aos poucos o bom senso e construindo um lastro de proteção que afasta a ideia do impeachment. Por sinal, a expressão cunhada pelos ingleses incorporada sem tradução ao nosso ordenamento jurídico, na situação que vivenciamos seria um remédio amargo se fosse ministrado ao país; teria efeitos colaterais imprevisíveis e poderia a emenda ser pior  que o soneto.

         Aplausos à senhora presidente. Pouco importa que desagrade aos radicais do seu partido. Começou a entender que foi eleita presidente do Brasil e não dirigente de um partido que é julgado como responsável pela banalização dos crimes contra a administração pública em geral (um capítulo do CP) e outros crimes comuns, afrontando valores morais e éticos essenciais à soberania de um povo. Se continuar empunhando uma lanterna no fundo do poço onde mergulhou para agradar seus “cumpanheros”, terá ao seu lado metade mais um do povo ao qual deve respeito e fidelidade e possivelmente a outra metade. Vale lembrar que as etapas de um processo de impeachment criará, com certeza, novo “mensalão”.

         A esta altura não importa saber quem teve a ideia de convidar um educador para a pasta da educação: importa saber que ele aceitou e não tem desgaste, é um nome novinho em folha, sem vícios aparentes ou compromissos assumidos. E o que é melhor, tem um nome a zelar. 

         Considerando que a ciência política no Brasil assumiu a feição de um jogo sujo de cartas marcadas, o povo decidiu que se a Constituição proclama “o poder emana do povo” (art. 1º, parágrafo único), este mesmo povo pode “virar a mesa” e “pagar para ver” com duas cartas novas: Joaquim Levy e Renato Janine. Não são milagreiros, são técnicos e vão pedir sacrifícios necessários. A sangria do “mensalão” e do “petrolão” provavelmente não voltará aos cofres públicos, principalmente as vultosas quantias destinadas às campanhas vitoriosas do PT. Nós vamos pagar a conta, é o jeito. A diferença é que surge a esperança do pagamento ser manipulado por mãos honestas, até prova em contrário.

         Acredito que todos os brasileiros de bom senso e capazes de pensar torcem pelo novo ministro, como já estão torcendo por Joaquim Levy. Com um educador de verdade será mais fácil repensar e reinventar caminhos e soluções possíveis para o soerguimento da dignidade de um país que teve a educação, seu alicerce mais importante, contaminado e enfraquecido por projetos de poder, vitimada pelo populismo irresponsável que tem destruído até a formação de novos líderes em nossa juventude. Ganha novo alento o ideal daqueles que acreditam na renovação de um país que volte a conferir ao Ensino Fundamental o timbre de excelência. Os demais passos no caminho do conhecimento seguirão a trilha naturalmente, é uma consequência.

         Estamos “pagando para ver”, confiando nas cartas em poder dos novos ministros. Certo tipo de jogo não é para qualquer um que desconheça regras e jogue sujo. Afinal, não devemos descartar a hipótese da sorte que acompanha o bom jogador: eles podem esconder na mão, discretamente, um “royal straight flush”, melhor dizendo, um naipe de cinco  cartas iguais (10, J, Q, K, A). O jogo vai começar. Façam o jogo, senhores!