R. Santana
Hoje, estimado leitor, estou completando mais uma era conforme a
sabedoria octogenária de tio Pedro: “pobre não faz ano, faz era”. Ele tem
razão, o pobre faz era (tempo), o rico faz aniversário que no linguajar popular
significa: comemoração, festa suntuosa, presentes caríssimos, viagem, bacanal,
etc. O pobre quando é querido, recebe os cumprimentos dos parentes achegados,
da esposa, dos filhos e alguns telefonemas de amigos distantes que sempre
encerram desejando saúde e muitos anos de vida. O pobre ousado coloca uma
churrasqueira no quintal, algumas cervejas na geladeira e faz festa com gente
de sua iguala.
Mas leitor amigo, deixemos essas coisas pra lá porque não iremos
mudar o mundo, pois “quem nasceu pra vintém nunca será tostão”, portanto, nos
prendamos, somente, ao título desta crônica.
O homem nasce, cresce, se moço não morre, velho não escapa, é a
lei da vida, nada que se pense ou se fale muda esta realidade. Há séculos o
homem repete: “Quem sou eu?”, “De onde vim?”, “Para onde vou?” e não encontra
respostas necessárias que satisfaçam sua curiosidade. No V Século a. C,
Sócrates usava com frequência a máxima de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”.
Passamos pela vida e não nos conhecemos plenamente nem ao outro.
O significado da vida sempre será discutível, tanto para o
agnóstico, tanto para o ateu ou mesmo para o religioso, este não nega nem
duvida de Deus, mas no recôndito do seu ser hesita entre a fé e o desconhecido.
Não existe certeza de realidade além - túmulo, o desconhecido é nebuloso, o
desconhecido dá medo, o desconhecido é estranho e sombrio assim como a morte. A
morte em si não aterroriza, mas a hipótese provável de que não existe vida
eterna, vida além-túmulo, que tudo será pó, é que dar medo.
O suicida tem consciência que a vida não tem significado quando
perde a fé nas promessas do mundo e o gosto de viver. Faz-se necessário
esclarecer que o suicida é movido, também, por problemas de desestruturação da
personalidade, falta de discernimento, perda da autoestima, depressão profunda,
patologias da mente, todavia, muita gente tida como normal, vive por viver, sem
objetivo material ou profissional, e não pratica o suicídio por falta de
coragem ou formação religiosa arraigada.
Quando jovem, o homem vê a morte e a velhice
como realidades distantes, a morte não lhe ronda e a velhice é um futuro
longínquo, sua elevada autoestima não dá lugar ao mau agouro, ao sentimento
negativo, o jovem se sente o dono do mundo ou filho do dono. Se ele persegue um
objetivo, mesmo que no caminho da vida encontre muitas pedras, ele o realiza.
O homem não deseja outra coisa, senão a
felicidade, grande é seu desapontamento quando descobre que a felicidade é
relativa, não existe felicidade plena, mas momentos felizes, assim como a paz e
o amor. Não se tem sossego o tempo todo e harmonia social sempre, nem se
encontra disponível todo tempo o sentimento do amor, da benquerença, do
desprendimento, da filantropia.
Se o amor fosse cultivado por todos os homens
como recomendação divina: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus
22:39), não haveria conflito social e a paz seria universal e a felicidade
seria para sempre, mas “Lupus est homo homini non homo – Plauto”, popularizado
depois por Thomas Hobbes: “Homo homini lupos”, que na linguagem do dia a
dia, significa: “O homem é o lobo do homem”. O homem é mau, o homem é
egoísta, se faz alguma coisa pelo seu próximo, faz movido pela promessa de
recompensa divina ou gozo pessoal.
A velhice é a idade de dor e sofrimento. Os
eufemismos: “melhor idade”, “idade da experiência”, “terceira idade”, “coroa”,
“idade da razão”, apenas, suavizam a derrota do homem perante a vida e a morte.
A velhice é o cutelo que Deus usa para cortar as aspirações mais legítimas do
homem e lembrar-lhe de sua finitude, de sua limitação física, de sua limitação
moral e intelectual, que ele é matéria corruptível e à matéria retornará um
dia.
Por isso, a necessidade da religião – o ópio
do povo de Karl Marx - para alimentar sua fé na ressurreição, na reencarnação,
na promessa de um paraíso terrestre, esperança de vida eterna, pois se fosse
alimentado desde cedo seu triste fim, que ele vai nadar, nadar, e, morrer na
praia, que o valor da vida é subjetivo, que a vida é uma realidade
tangível, o homem já teria virado pelo avesso este mundo setenta vezes sete.
Autor: Rilvan Batista de Santana
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Itabuna, 01 de Junho de 2015.