Por Cyro de Mattos
Conheci João Eurico Matta na
Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, nos idos de
1958. O ingresso como calouro naquela
faculdade não me dava condição para me aproximar daquele acadêmico veterano com
feição de professor, admirado pelos
alunos antigos e novos por suas maneiras elegantes, seu saber, cursando os
últimos anos. Propiciava, assim, que eu
admirasse o mito, cuja inteligência e
cultura passavam firmeza nas ideias aos outros colegas de sua
geração. Uma energia de seu espírito comprometido com a cultura,
apreendida através de procedimentos
investigativos e interpretativos na leitura da vida.
Na Faculdade de Direito foi diretor da revista Ângulos, do Centro Acadêmico
Rui Barbosa, órgão representativo dos alunos. Teve atuação exemplar. Fui, na
época, secretário de imprensa e editor do jornal A Palavra, do Centro Acadêmico
Rui Barbosa. A revista fora fundada por
Adalmir da Cunha Miranda, em 1950. Veículo de teor jurídico e cultural
tornara-se em pouco tempo muito comentada por sua importância nos meios
intelectuais de Salvador, Contemplou em
suas páginas textos dos professores
Antonio Luís Machado Neto, Marcelo
Duarte, Edivaldo Boaventura, poeta
Florisvaldo Mattos, cineasta Glauber Rocha, acadêmicos de direito Joaci Goes,
Davi Sales, Nemésio Sales, Noenio Spínola, João Ubaldo Ribeiro, Ildásio
Tavares e outros alunos com destaque
naquela gloriosa Faculdade de Direito.
Graduado em Direito, com sólida formação, a legítima vocação para o ensino
universitário iria aprofundar-se adiante através de conhecimentos de
filosofia, sociologia, literatura e outros ramos das ciências humanas para que
hoje, do alto de seus oitenta anos, a estrada se tornasse comprida, larga nas
conquistas de uma paisagem feita de saber para saber, saber para ser, saber
para poder ser. Uma paisagem fecunda em sua praxis e repercussão nos meios universitários e intelectuais da
Bahia. Chega aos cumes quando o seu viajante é reconhecido como Professor Emérito da
Universidade Federal da Bahia..
O currículo é invejável, intocável, na área do ensino universitário.
O encontro agora é de afetividades e felicitações, não cabe relatar os
pontos elevados do percurso, levaria tempo. Quem está aqui é o jovem recém ingresso
na Faculdade de Direito, que passou logo
a admirá-lo, naqueles idos universitários de saudosa memória, aos quais
o tempo se encarregou de esfumar,
como faz em tudo no mistério da
vida.
Tornei-me com a passagem dos anos
ainda mais admirador desse intelectual oitentão, de acumuladas
juventudes.
Contente acabo de chegar de Itabuna, minha cidade. Como representante,
também, do Pen Clube do Brasil, o tempo disse que eu estivesse aqui nesse
encontro com uma criatura rara. Nesse momento de afetividade, felicitações que
são dadas no entrelaço da vida ao
estimado oitentão. A Bahia agradece por tudo que fez na
área do ensino universitário e na
progressão da nossa cultura. Como autêntico agente formador de gerações e
liderança de qualidade.
(Fala pronuciada no almoço de adesão
em homenagem aos 80 anos do doutor
professor João Eurico Matta, membro da Academia de Letras da Bahia, no
Restaurante do Yacht Clube da Bahia, Salvador, em 16.06.2015) .