Cyro de Mattos
Seus avós Cyro e Mariza
querem lhe dizer que Deus é o Criador de
todos os seres e todas as coisas. Está em todo lugar, não tem princípio nem fim porque é eterno. Ele é todo poderoso e todo generoso. Ele
nos deu a vida, nosso bem maior. Durante
milênios, os seres humanos vêm mostrando
que não sabem amar uns aos outros, mas que sabem mesmo é maquinar com
o feio, fazendo o mal ao próximo. Gostam de se afastar do
bem. E Deus, nosso Pai, está sempre nos perdoando com sua infinita
misericórdia diante das coisas malignas que, todos os dias, não cansamos de inventar.
È fácil ver Deus quando o passarinho canta e
inaugura a manhã com seu
canto de músico festivo. Quando a
formiga, de folhinha em folhinha, vai carregando o alimento para a sua moradia, que fica debaixo do chão.
E lá dentro vai armazenar a comida que serve para alimentá-la e às suas
companheiras. É fácil ver Deus quando
o sol amanhece e vem clarear o
dia com tudo que Ele pôs no mundo para ser visto e alcançado pelos seres humanos.
Você poderá me dizer que é difícil
ver Deus quando no mundo existe tanta guerra, com o homem que mata o outro
homem, às vezes mata e não enterra, enquanto os animais matam para comer e
sobreviver ou em defesa dos filhotes.
Pois é, meu neto, nem tudo
sabemos explicar sobre Deus. Quando vemos, por exemplo, um terremoto arrasar cidades, matar centenas de inocentes, ficamos sem saber por que Deus não apareceu
para evitar tamanha calamidade. Ficamos
também sem saber por que Deus nos
inventou para viver a maravilha da vida e depois morremos. Quando
acontece a morte, por doença ou acidente, de cada um de nós, ficamos só
tristeza, porque nunca mais vamos
conviver com o ente querido que se foi sem volta. E saberemos que para tudo se tem jeito menos
para a indesejada.
Quando achamos que o preto é inferior
por ter nascido de cor e que o pobre é igual a cachorro, fornecemos à vontade ensinamentos
perversos para que corram no
tempo, habitem os nossos corações
com toda a carga de opressão e
desigualdade. E assim são tantas coisas
que nos abalam e nos deixam entristecidos,
sem saber por que Deus consente
que aconteçam, ao invés de evitar a sua proliferação.
Nessas horas é difícil explicar Deus. E Deus se explica? O melhor é
sentir Deus, explicar é complicado. Acreditar que Ele nos fez para que com
mãos nas mãos uns ajudem aos outros, o
que ainda não conseguimos aprender a fazer, até quando? Nessa guerra que todo
os dias existe por aí, de cada um só
pensar em si, nós não fazemos nossa parte, só queremos que Deus esteja do nosso lado e o diabo no dos outros.
Assim fica difícil viver e andar em paz com Deus. Mas uma coisa é certa, sem Deus no coração
e no pensamento, o homem é um ser solitário,
vive na escuridão, na depressão, na obsessão de ter as coisas materiais
como o sentido exclusivo da vida. Para quê? Porque pensa que quanto mais rico
for será o dono do mundo. Cuidado, meu
neto, aí pode residir o maior perigo. De dono das coisas,
você pode passar a ser escravo delas.
Nem tanto o céu nem tanto a terra. Bom é o equilíbrio, com Deus no
coração. E, como disse o poeta, tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Aprendi com o tempo que um abraço dado de bom coração
alimenta tanto quanto uma bênção ou bons pedaços de pão. Pra terminar, receba agorinha mesmo esse beijão de Vô Cyro e Vó Mariza.
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Cyro de Mattos é escritor e poeta. Primeiro Doutor
Honores Causa da Universidade Estadual
de Santa Cruz. Ocupa a cadeira 22 da Academia de Letras da Bahia, que tem como
fundador Rui Barbosa. Acaba de publicar O
velho e o Velho Rio, contos e novelas, Editora Escrituras, São Paulo, e A Anotação e a Escrita, ensaio, Editora
Via Litterarum, Sul da Bahia. Um dos fundadores da Academia de Letras de
Itabuna (ALITA)