Tica Simões- Abertura do III Festival Literário de Ilhéus- Pronunciamento

Pronunciamento em 16/05/2018
Abertura do III Festival Literário de Ilhéus
6 Feira de Livro da UESC
Autora Homenageada



Agradeço muito! Fiquei pensando no porquê desta homenagem que muito me honra. E penso que deva ser pela trajetória. Por isso, vou aqui pontuar alguns momentos que aconteceram, pari passu, com o meu estar na região que foi também o tempo do caminhar da UESC.
O longo período de implantação do ensino superior na região foi iniciado em 1960. Naquele tempo, a região era pujante e rica -  monocultora de cacau.
Cheguei em 1964, quando se formava a primeira turma da Faculdade de Filosofia de Itabuna. Na FAFI cursei Letras. E, dessa época, não posso esquecer as aulas de Literatura Brasileira, de Ritinha Dantas; de Teoria da Literatura  de Rivaldo Baleeiro. Na FAFI, me formei. E, já no ano seguinte, comecei a ensinar Literatura Portuguesa. Naquele tempo, a liderança de Manoel Simeão e de Flávio Costa, na FAFI, levou-nos à união com a Faculdade de Economia - FACEI e a Faculdade de Direito - FDI. Eram as três faculdades isoladas que, à época, constituíam o ensino superior da região.
Soane Nazaré de  Andrade liderou o movimento que as uniu em Federação de Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna – FESPI.  Naquele então, o ensino superior teve como mantenedora a Comissão Executiva Plano da Lavoura Cacaueira.
Na estrada onde hoje é o campus da UESC, a Ceplac construiu a  sede da FESPI. Foi sua mantenedora e a sustentou até quando veio a crise do cacau...
Tenho a honra de dizer que fiz parte do grupo que compôs o primeiro corpo docente e de assessoria da FESPI, dirigida por Soane Nazaré .  Sou jurássica!   Foram anos de muito idealismo! e foram sem conta os companheiros de luta.
Depois, já nos anos 80,  a crise da lavoura assolou a região: primeiro a podridão parda; depois a vassoura de bruxa. A CEPLAC já não tinha recursos para manter a FESPI.   A angústia da crise nos  fez enxergar  que  a riqueza da região não era somente o cacau.  Percebemos que estávamos (e estamos) situados numa das maiores biodiversidades do planeta, na biosfera do nascimento  do Brasil, numa região de enorme beleza e riqueza cultural. Assim, em busca de outras alternativas para o ensino superior, inicialmente procuramos a federalização. Não logrando êxito, a seguir, a estadualização, afinal conquistada em 1991, qdo nasceu a UESC! Sem dúvida, o idealismo ligava o grupo. De tantos,  guerreiros e guerreiras e amigos sempre, posso citar aqui, presentes: Renée Albagli Nogueira, Margarida Fahel, Ruy Póvoas, Lola Passos, Joaquim Bastos, Henrique Simões,  Baisa Nora, Adélia Pinheiro...  (para não incorrer no perigo de esquecer algum dos tantos nomes, cito somente os aqui presentes)
Nesse caminhar, pari passu, eu fazia  docência e pesquisa. E alguma pouca administração.
Na docência, trilhei a Literatura Portuguesa, na  qual fiz o doutorado, em Portugal. Na Teoria da Literatura, encaminhei a pesquisa, que resultou no pós-doutorado em Literatura Comparada, Cultura e Turismo.
Na administração, tive o prazer de compor, enquanto pró-reitora de pesquisa e pós-graduação,  a equipe da primeira reitora da UESC, eleita por voto direto, Renée A Nogueira, mulher guerreira, firme, valente. Então, novos desafios se apresentaram para esse grupo de idealistas. Dessa vez, a consolidação da universidade.  E a UESC não parou mais; teve a sorte de ter, a seguir, reitores comprometidos com o projeto universitário; desse mesmo grupo de idealistas: Joaquim Bastos e, agora, Adélia Pinheiro.  
Mas devo falar também da turma da pesquisa, sempre o meu fazer preferido. Na pesquisa, criei o grupo Identidade Cultural e Expressões Regionais – ICER, no qual realizei muitas orientações. E, como uma mãe coruja, tive e tenho a alegria de ver os orientandos se realizando profissionalmente.  E alegria é  tê-los até hoje como amigos.
Bem, nesse caminhar, como já foi dito pela minha apresentadora, muito pesquisei e publiquei sobre a literatura portuguesa  e a literatura sul-baiana. Aqui quero somente retomar  a recolha e publicação dos inéditos de Valdelice Pinheiro, não mais para referir a poetisa, mas mencioná-la  tb guerreira, que fez parte do grupo de desbravadores.
Agora, este último livro, lançado ontem. Pluralidades.  Patrimônio cultural e Viagens – relendo a literatura sul-baiana quer ser uma síntese do trabalho de pesquisa desses anos.
Sobre Literatura, é claro que não vou aqui  falar de paradigmas, de teorias ou momentos literários... Mas posso dizer que os ensaios que reúno em Pluralidades, por uma questão histórica, fazem isso. E atravessam um tempo de muitas mudanças paradigmais e teóricas... Desde o estruturalismo às abordagens comunicacionais...
Por isso, os textos reunidos foram revistos e remixados. Sempre com o foco sobre a literatura sul-baiana, foram re-lidos com um olhar deste século XXI, em linguagem e abordagem.  Quero dizer que, do primeiro olhar literário, passo ao cultural, ao turístico e ao tecnológico.  Mas isso vocês poderão observar quando/ SE  lerem o Pluralidades.
De mim, posso dizer que sou  grapiúna por escolha. Aqui casei, tive dois filhos (meu bem maior), e ganhei mais uma preciosa família. Sou nascida em Salvador, mas o visgo do amor (não da jaca) me trouxe cedo para cá: aos 18 anos; foi quando casei com o príncipe encantado que, até hoje, não virou sapo! Continua príncipe!!  A ele dedico o Pluralidades, que é tb minha trajetória:   para Henrique, companheiro de caminhada, que em altas ondas ou mar brando, em ventanias ou brisa suave... sempre... é porto seguro para mar agitado!

E digo com Camões:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança
Todo mundo é composto de mudanças
Tomando sempre novas qualidades.

Da minha experiência, afirmo que a caminhada da vida se faz com idealismo, ética, lutas, trabalho e AMIGOS!

E, mais uma vez, lhes  agradeço, agora com o verso de Antônio Machado, que é epígrafe do meu livro Pluralidades: :
Caminhante, não há caminho,
Se faz  caminho ao andar...


Obrigada.
Em 16 de maio 2018
Tica Simões


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