05 de novembro - Dia Nacional da Cultura






CULTURA E EXISTÊNCIA HUMANA SÃO VALORES INDISSOCIÁVEIS


O dia 5 de novembro é dedicado à cultura brasileira e possui um amplo significado.

Somos uma Academia de Letras, lugar onde, obviamente, cultua-se a literatura (palavra que vem do latim litteras = letras). Seria a literatura a mais genuína das formas de cultura? Cremos que qualquer resposta seria arbitrária, pois cultura é um conceito muito amplo para ser aprisionado em tão pequeno espaço. Se chamarmos de “cultura” aquilo que o homem – nessa sua predadora presença na terra – acrescenta à natureza, talvez nos aproximemos de um conceito inteligível. Cultura é tudo aquilo que surgiu para promover bem-estar, proteção, felicidade ou desgraça do homem: Deus (e deuses), relações amorosas, costumes, negócios, tradições, candomblé, acarajé, capoeira, cantos indígenas, linguagem, religiões, igrejas, esportes, utensílios e instituições que o disciplinam e submetem aos preceitos vigentes, num processo que tem até componentes de adestramento. As letras são apenas um dos itens da vasta cultura.

Nem todos concordam com este conceito aqui esboçado, e isto não é motivo de preocupação. Preocupa-nos, sim, que vija ainda entre nós um dos mais reacionários entendimentos de cultura – aquele que vincula o termo a um saber elitista, apanágio de uns poucos eleitos pelas musas. Para estes, cultura é sinônimo de erudição, de notável saber livresco, negando a noção de “culto” ao homem das ruas. A Academia de Letras de Itabuna abriga valores culturais tanto na arte quanto no sentido lato: da literatura internacionalmente aplaudida de Adonias Filho e Jorge Amado à poesia popular de Minelvino Francisco Silva, patronos; de juristas reconhecidos além de nossas fronteiras a trabalhadores intelectuais de lavra local; de notáveis escritores locais e regionais a nomes que aqui aportaram e, aclimatados, ajudaram a construir esta terra.

Cremos que cultura não rima com preconceito. O individuo que lê Proust e Kafka, e ouve Gustav Mahler, não é mais “culto” do que quem ouve pagode e não lê nada além de bula de remédio: é mais erudito, mais sofisticado, alguém que, por certo, teve mais oportunidades na vida. E, nem por isso, é mais sábio, pois cultura e existência humana são valores indissociáveis.


Antônio Lopes