A literatura está viva em Itabuna
Jornalista com experiência de mais de meio século nas redações, e escritor com quatro livros publicados, Antônio Lopes, discorda dos que anunciam uma espécie de morte iminente da literatura em Itabuna. Para ele, considerando que a cidade não tem maior tradição em cultura livresca – devido ao descaso com que o poder público trata o assunto – as coisas não poderiam estar melhores do que estão. “Temos duas academias de letras, duas editoras e vários autores em plena atividade”, contabiliza.
Ele diz estar ciente de que
academias de letras não constituem prova de produção literária, mas que, ainda
assim, “mostram que a literatura está viva, que há pessoas interessadas nisso”.
Editorialista do Agora, Lopes destaca, em favor de seus argumentos, que
Itabuna é terra de Hélio Pólvora (atualmente residindo em Salvador), Cyro de
Mattos e Ruy Póvoas, para citar uns poucos – e que se encontram em plena
atividade literária. Hélio Pólvora (que em abril tomou posse na Academia de
Letras de Itabuna) “lançou dois romances este ano e, por certo, tem outro na
gaveta”, lembra o jornalista.
“Governos cegos”
Lopes salienta também que o
escritor Ruy Póvoas tem publicado com “agradável frequência”, e que Cyro de
Mattos está de livro novo na praça, “e temos ainda a prosa de Odilon Pinto e
Agenor Gasparetto. Adylson Machado publicou um festejado romance (além de uma
pesquisa sobre Caboco Alencar, figura popular de Itabuna), Daniel Thame publicou
dois volumes de contos, retomando a temática cacaueira”. A poesia, na visão de
Lopes, está com forte presença, com Lourival Piligra, Daniela Galdino, Noélia
Estrela, Gustavo Felicíssimo e outros, sendo que Sione Porto publicou e lançou pela ALITA seu
primeiro livro de poemas e Ceres Marylise Rebouças, participa no fim deste ano, de uma
coletânea latino-americana de poesia organizada por Marina Colasanti, a grande homenageada, e Affonso Romano de Sant'anna. Assim, não
nos faltam escritores de verso e prosa. O próprio Lopes teve reeditado
recentemente pela Editus (editora da Universidade Estadual de Santa Cruz) seu
livro Estória de facão e chuva. “Dirão que faltam leitores, mas isto
também é uma falácia”, provoca o escritor, para ele mesmo responder.
“Como pretender que existam aqui
muitos leitores, se não temos atendidas as necessidades mais fundamentais à
sobrevivência?” – interroga o autor de Luz sobre a memória. Para ele, uma
cidade sem tradição, sem escolas públicas de boa qualidade, com governos cegos à
questão cultural, com academias de letras sustentadas pelos próprios acadêmicos
(que se cotizam para cobrir as despesas da instituição) não teria como ser um
lugar de leitores contumazes: “O que digo é que a produção literária é boa, a
parte dos criadores de prosa e poesia tem sido cumprida, mas a de formar leitores
não é função do escritor, é da sociedade, da escola e, sobretudo, do poder
público, que precisa ser o dinamizador da escola e da
sociedade”.