EVITAR O PÂNICO - João Otávio Macedo


"Nós precisamos entender melhor a natureza humana porque o único perigo real que existe é o próprio homem", Carl Jung.
Na verdade, desde que o mundo é mundo e pelo que se conhece da história, paz verdadeira nunca houve e, certamente, jamais haverá. Tivemos, no século passado, em menos de cinquenta anos, duas guerras mundiais que ceifaram alguns milhões de vidas e as guerras focais continuam aí, mostrando a belicosidade existente no ser humano, apesar dos avanços das ciências, da filosofia, das religiões, tentando frear o instinto para o mal que existe em cada ser humano, como existe em diferentes graus, nos demais animais.
Os meios de comunicação, para o bem e para o mal, vêm mostrando, dia após dia, cenas terríveis que acontecem nas principais cidades do país, principalmente na maior delas, a grande São Paulo, com assassinato de policiais militares, a mando do crime organizado; cenas de pânico em alguns bairros periféricos, incêndio de vários ônibus e automóveis, tendo esses fatos nefastos, como pano de fundo, as drogas. A selvageria acabou de atingir um dos estados que gozavam de grande tranquilidade, Santa Catarina, também com assassinatos e queima de ônibus, tanto no interior como na capital, Florianópolis, detentora de um dos maiores IDH (índice de Desenvolvimento Humano) do país.
A violência vem crescendo, já há alguns anos, parecendo não oferecer nenhuma trégua e não sabemos até aonde irá. Recursos fabulosos que poderiam ser aplicados em áreas como a saúde, educação, infraestrutura e lazer, são canalizados para o combate à violência.
Vez por outra a televisão mostra cenas que parecem não ser praticadas por um ser humano, como daquele cidadão (um monstro desse seria, realmente, um cidadão?) que salta de uma moto e, tranquilamente, dispara um tiro na cabeça de um morador de rua, que dormia; outro, também em uma moto, emparelha com um ônibus carregado de passageiros e passa a disparar tiros em direção ao mesmo, sem qualquer preocupação se vai atingir alguém, ou não;outra mostra um criminoso que atira de encontro a um carro, atingindo uma criança de um ano e sete meses, que acabou morrendo.São alguns fatos, entre dezenas, mostrados diariamente nos meios de comunicação, colocando a população a caminho do pânico.
Em nossa cidade, vemos alta taxa de homicídios, em sua maioria, envolvendo jovens pertencentes às famigeradas gangues, com envolvimento, também, das drogas. Na maioria dos municípios brasileiros, excetuando os de população pequena, a violência tomou conta. Não é problema somente para os governos, mas para toda a população; infelizmente, observa-se uma crescente desagregação do núcleo familiar, que já existe há muitos anos, mas que vem aumentando, e esses jovens, desde a infância, são jogados nas ruas, sujeitos às intempéries do tempo e, muito cedo, enveredando na seara do crime. É a principal causa da violência.
É preciso que a população tome as suas cautelas, mas não entre em pânico; no estado democrático de direito, como o nosso, apesar das falcatruas do mundo político, as instituições devem merecer o crédito necessário para enfrentar esse estado de coisas. A geração de um novo ser é uma das atitudes de maior responsabilidade que um homem e uma mulher podem executar e a justiça poderia ser mais rigorosa com os pais e mães que abandonam seus filhos.
Dizem os exegetas que não teremos uma catástrofe mundial no final do próximo mês, como apregoam alguns profetas do apocalipse, mas sim, o início de uma nova era, envolvida por sentimentos humanitários, pela ética, pela caridade e, principalmente, pela fraternidade. Se houver uma queda nessa violência assustadora, já será um passo importante para um período melhor na face do conturbado planeta terra.

João Otavio Macedo é médico e membro efetivo da ALITA

23 Novembro 2012 08:29