AXÉ, MÃE STELLA DE OXOSSI! - Sônia Maron

              




  AXÉ, MÃE STELLA DE OXOSSI!

                                            *Sônia Carvalho de Almeida Maron 



            Quando li o e-mail enviado pelo Prof. Dr. Aleilton Fonseca, comunicando aos seus amigos e confrades da ALITA a escolha de Maria Stella Ribeiro Santos para ocupar a cadeira de Castro Alves, na Academia de Letras da Bahia, lembrei imediatamente de uma frase de Valdelice Soares Pinheiro, em 1957, no momento em que datilografava mais um dos seus poemas: “Soninha, a África ainda vai dominar o mundo”. Eu tinha dezessete anos e fiquei surpresa com a frase de Val – apelido que a identificava para familiares e amigos mais chegados -  sem entender nada. Logo a África, coitadinha, pobre e esquecida, cheia de símbolos e rituais que o mundo dito civilizado não entendia e nem queria entender e de animais lindos e estranhos caçados para alimentar a vaidade dos brancos?  Concluí que minha amiga mais querida estava apenas pensando alto. Afinal, diz a sabedoria popular que “de médico, poeta e louco, todo mundo tem um pouco”. E Valdelice concluiu sua reflexão: “Não se surpreenda quando acontecer,  pois  muito será dado a quem muito sofreu; além disso, a  história é cíclica”.  Felizmente Valdelice estava certa: os poetas sempre estão com a razão porque sabem sonhar.

            Graças à abençoada capacidade de sonhar de Val não me surpreendi. É a hora e a vez da África mostrar sua face e pelo único caminho existente entre os homens para dominar o mundo: a educação, o conhecimento, a sabedoria, a mensagem de paz e tolerância de quem sentiu na pele e na carne a dor da discriminação, da intolerância e do preconceito. Pela segunda vez, Barack Obama, um negro,  governa o país mais poderoso do mundo;  na Academia de Letras da Bahia, a poucos anos do centenário, toma posse na cadeira que tem Castro Alves como patrono, a sacerdotisa da cultura africana na Bahia, Mãe Stella de Oxossi,  dirigente do Terreiro llê Axé Opô Afonjá; na Academia de Letras de Ilhéus, meu querido amigo, Josevandro Nascimento, afro-descendente, ocupa a presidência e na sessão solene de posse foi palestrante o jurista Prof. Dr. Edvaldo Pereira Britto, um dos acadêmicos da instituição, personalidade emblemática que o Brasil inteiro conhece e respeita, proferindo a palestra de abertura do ano acadêmico louvando seu patrono Castro Alves. E que louvação! Ocorre que os versos de “Vozes d'África”, um dos poemas mais conhecidos do poeta baiano imortal, aos poucos vai perdendo o sentido, embora a incomparável beleza permaneça. Castro Alves, naqueles versos, clamava pela presença de Deus.

            Deus!  Ó Deus!  Onde estás que não respondes?
            Em que mundo, em que estrela Tu te escondes
            Embuçado nos céus?
            Há dois mil anos te mandei meu grito
            Que embalde desde então corre o infinito...
            Onde estás, Senhor Deus?

            Hoje, percebe-se que a voz do poeta foi ouvida. Tudo tem seu tempo. A título de informação, acrescento que o escritor, professor da UESC, mestre em Línguas Vernáculas e afrodescendente Ruy do Carmo Póvoas, babalorixá do terreiro ILÊ  AXÉ  IJEXÁ ORIXÁ  OLUFON, é membro da Academia de Letras de Itabuna e diretor da revista GURIATÃ, da Academia de Letras de Itabuna, a qual pretende levar aos leitores, com destaque para os jovens, mensagens dos seus acadêmicos que  propiciem o enriquecimento e a ampliação dos seus horizontes literários, para que possamos ser considerados imortais. AXÉ vozes “d’África”!



*Sônia Carvalho de Almeida Maron é membro da ALITA