LINGUAGEM DAS MANIFESTAÇÕES
*Sônia Carvalho de Almeida Maron
*Sônia Carvalho de Almeida Maron
Como a Copa das Confederações e a Copa do Mundo comandam o espetáculo, objetivos, valores, projetos sociais, transformam estádios em arenas, têm na FIFA o órgão supremo que decide a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, pergunta-se se quem chegou ao pódio através do voto popular está conseguindo manter a taça de ouro na vitrine, ou deixou que ela fosse subtraída. Felizmente, desta vez, a taça voltou às mãos do povo, que decidiu explicar que existe, tem voz e, quando se manifesta, é a nação no gramado, aplaudindo e vibrando com o virtuosismo dos seus ídolos ou comandando as vaias – e o que é pior e assustador – perdendo o controle sobre os pequenos segmentos que usam a violência e o vandalismo para desvelar as personalidades doentias que também integram a multidão e fazem parte, do mesmo modo, de todas as instituições sociais e políticas. Essas pessoas, perfeitamente identificáveis pela inadequação ao convívio social, não conseguiram e não conseguirão desfigurar a mensagem do movimento do povo brasileiro, já denominada por alguns noticiários da imprensa internacional como “primavera tropical”. Aparentemente sem comando único ou liderança declarada, abriga todas as classes sociais, à exceção, naturalmente, dos políticos e milionários.
Nossa “primavera tropical” tem um nome, um comando e uma liderança : indignação. Não é preciso a releitura de Gustave Le Bon, que estudou a multidão com lucidez incomparável, em sua obra sobre a psicologia das massas. Sua frase “as vontades fracas traduzem-se em discursos; as vontades fortes em ações”, aparece, em outras palavras, em dois cartazes de cartolina, com letras manuscritas, exibidos por um grupo de jovens e registradas pela TV Bandeirante, graças à sensibilidade do cinegrafista. A primeira dizia:
Não quero a Copa
Não quero não
Devolva meu dinheiro
Em saúde e educação !
E o segundo cartaz dizia: “O GIGANTE ACORDOU !“
E o segundo cartaz dizia: “O GIGANTE ACORDOU !“
É isso aí. Eu diria que o gigante, que dormia em “berço esplêndido”, acordou em um “ leito de Procusto”... Chegou o momento de acordarem todos aqueles que receberam o poder conferido pelo povo e, equivocadamente, pensam que figuram como outorgantes na procuração, que é o VOTO. O voto é um mandato, conferido pelo povo, que é o único e verdadeiro outorgante. Os escolhidos pelo voto popular são meros outorgados, dizendo melhor, mandatários. Honrando e respeitando o voto recebido, o povo não irá às ruas. Não irá às ruas, mas não se iludam: continuará acordado.
*Membro da Academia de Letras de Itabuna - ALITA