Duas Academias de Letras
Cyro de Mattos
Fundada em 14 de março de 1959, nos moldes da francesa, em que a Academia Brasileira de Letras também se inspirou, a Academia de Letras de Ilhéus tem como um dos princípios o cultivo da língua e da literatura nacionais, sem desprezar as relações que mantém com as artes e as ciências. O poeta ilheense Abel Pereira foi o idealizador da instituição e o primeiro presidente.
A Academia de Letras de Ilhéus é formada por quarenta membros, dos quais vinte e cinco serão obrigatoriamente residentes em Ilhéus e Itabuna. Já conta, em sua história, com figuras do porte de Jorge Amado, Adonias Filho, Zélia Gattai, Jorge Medauar, Telmo Padilha, Hélio Pólvora, Milton Santos, João Mangabeira, José Cândido de Carvalho Filho, Euclides Neto, Orlando Gomes, Luiz Fernandes Pedreira, Raimundo Laranjeiras, Neide Silveira e Edvaldo Brito, citando-se aqui apenas algumas de suas figuras expressivas.
Seu ideal está expresso na divisa: “Patriae Litteras Colendo Serviam”, que pode ser traduzido como “Servirei à Pátria Cultuando as Letras”. No começo, as reuniões da entidade realizaram-se na residência do acadêmico fundador Nelson Schaum, durante vários anos. As solenidades ocorriam em auditórios da cidade, principalmente no salão nobre da Associação Comercial de Ilhéus. Desde 14 de março de 2004, a Academia começou a funcionar na sede própria, localizada na Rua Antonio Lavigne de Lemos, número 39, no centro. O imóvel foi doado à entidade na gestão municipal de Jabes de Souza Ribeiro, também membro daquela Casa.
As atividades da Academia interagem hoje com a sociedade. Camadas significativas do meio social participam das palestras, conferências, recitais e eventos outros de natureza cultural, com destaque para os saraus literários, que já se tornaram uma tradição. A instituição conta com um site administrado pelo acadêmico Pawlo Cidade, que é também agente cultural com destaque na Região Cacaueira Baiana.
A Academia de Letras de Itabuna (ALITA) nasceu em uma das salas da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania, FICC, às 9 horas de 19 de abril de 2011. Seus membros fundadores foram Carlos Eduardo Passos, Marcos Bandeira, Sonia Maron, Lurdes Bertol, Ruy Póvoas, Maria Luiza Nora, Gustavo Veloso, Rilvan Santana, Ary Quadros, Antonio Laranjeiras, Sione Porto e este articulista. Integram atualmente o quadro de associados da entidade vinte e nove homens e mulheres, de indiscutível expressão intelectual nas áreas literária, jurídica, de comunicação e ciências humanas. Sua sede está localizada na Rua Ruffo Galvão, Edifício Dilson Cordier, segundo andar, no centro.
A ALITA, como carinhosamente os membros gostam de nomear a instituição, veio para interagir com a sociedade e perdurar como instituição atuante. Com pouco mais de dois anos de instalada, sem dotação orçamentária, com grandes dificuldades econômicas, vem promovendo eventos literários e culturais marcantes, graças à dedicação de sua diretoria e criatividade de alguns de seus membros: Semana do Centenário de Jorge Amado, Dia da Consciência Negra, Dia do Índio, lançamentos de livros e sessões solenes de posse de novos membros. Seu site, criativo e dinâmico, dá visibilidade à instituição, que passou a ficar conhecida fora das fronteiras regionais. É administrado e elaborado pela cuidadosa e abnegada acadêmica Ceres Marylise.
A instituição conta em seu quadro de associados, intelectuais renomados como, Florisvaldo Mattos, Hélio Pólvora, Aleilton Fonseca, Maria de Lourdes Netto Simões, Carlos Valder Nascimento, Soane Nazaré de Andrade, Janete Ruiz Macêdo, Margarida Fahel, Ruy Póvoas, Marcos Bandeira, Antônio Lopes e outros, cometendo-se aqui certamente o pecado da omissão.
O ideal que alimenta a Academia de Letras de Itabuna é “Fraternidade nas Letras”, embora, em nossa ótica, uma instituição desse teor deva ter como lema a promoção e a defesa da liberdade de expressão, a valorização da humanidade nas letras. É obvio que a fraternidade faça parte das relações dos integrantes de qualquer agrupamento que se diga civilizado. Também não se pode deixar de considerar que as grandes obras literárias da humanidade tenham sido escritas sob o clima dos conflitos, solidões, pesadelos, contradições e indignações, que o difícil gesto do viver sempre gera.
Existe escritor que não tem vocação para ser acadêmico e recusa ingressar no patamar da imortalidade por mais que receba o insistente convite. Foi o caso do nosso poeta maior Carlos Drummond de Andrade, que instado pelo presidente Austragésilo de Athayde para ingressar na Academia Brasileira de Letras sempre recusou. Já outros tentam, tentam, e não conseguem o ingresso na instituição, por mais que sejam portadores de uma obra importante. Aconteceu com o poeta Mário Quintana, sempre derrotado quando se candidatava a ser um dos membros da Academia Brasileira de Letras. Pode acontecer que um ou outro membro não tenha perfil para esse tipo de exercício intelectual. Chegou à corte dos ditos imortais pela insistência de admiradores ou até mesmo pelos caprichos do destino.
No mundo de hoje em que os valores espirituais são descartados, priorizando-se o corpo, o estômago e a cabeça em busca de poder, cabem às Academias de Letras cultivar a importância da língua, literatura e comunicação, manifestações essas inerentes ao nosso ser-estar no mundo com vistas ao enriquecimento da vida. Esse tipo de instituição contribui para perenizar aqueles que amam as letras, manipulam com eficácia os sinais visíveis da escrita, os elementos da oratória e o simbolismo da cultura, instrumentos que resultam da criatividade humana e que bem exercitados tornam-se caminhos úteis para a compreensão do outro mais o mundo.
O patrono da Academia de Letras de Ilhéus é o notável jurista Ruy Barbosa. O seu presidente atual é o professor universitário Josevandro Nascimento. O patrono da Academia de Letras de Itabuna – ALITA - é o consagrado romancista Adonias Filho. Sua atual presidente é a Juíza de Direito, Sônia Maron.
*Cyro de Matos é escritor e poeta. Da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna.