Quando criança Ceres Marylise não pensava em ser
professora nem poetisa; queria ser arqueóloga. No entanto, a menina que se
interessava por todo tipo de leitura que se referisse às escavações no Egito,
acabou por fazer o curso de Magistério. Apesar da carreira imposta pelos
costumes familiares e da época, Ceres se dedicou a ela com amor,
qualificando-se cada vez mais e fazendo o seu melhor. Hoje diz que faria
Magistério novamente, pois a reciprocidade no ato de ensinar e aprender é a
maior e melhor experiência em termos de relacionamento humano.
Sempre gostou de escrever e ao longo de sua vida
teve contato com grandes escritores e poetas mas só depois de aposentada na
universidade, teve tempo de se dedicar e o faz lindamente, demonstrando
cuidado e carinho com cada palavra escrita.
O reconhecimento veio através da seleção de
vários poemas seus para participarem de antologias e revistas nacionais e
internacionais. Agora, em 2014, o ápice de grandes conquistas: o lançamento
do seu primeiro livro solo “Atalhos e Descaminhos” no Salón Du Livre de Paris;
o convite para tomar posse na "Divine Académie Française des Arts,
Lettres et Culture" em Paris na França, onde também será condecorada
como Embaixadora da Paz no Hôtel George V.
Em abril, no dia 19, receberá o Troféu Cecília Meireles em Itabira - MG
e voltará à mesma cidade em agosto para receber o troféu Carlos Drummond de
Andrade, que é a terra natal do poeta.
Nos dias 13 a 17 de março participará em Brasília do XI EIDE - Encontro
Internacional de Escritoras que acontecerá pela primeira vez no Brasil, onde
será homenageada com o troféu MULHER e também lançará seu livro ATALHOS E
DESCAMINHOS no Itamaraty e Museu Nacional.
E esse é só o começo de um grande voo porque a agenda está cheia de
compromissos literários durante todo o ano em vários estados no Brasil e em
Uruguai, Chile, Portugal e Espanha.
Sempre reservada, Ceres é muito simples e dedicada à sua casa e à sua
escrita. Uma mulher que encanta a todos com o seu conhecimento, sua presença
e sua poesia. Nem o céu será o limite para ela, que tem um coração cheio de
amor e saudade, mas leve, com a pureza das almas nobres.
Feliz Dia da Mulher, Ceres!
Como foi passar a vida ensinando?
Uma experiência fantástica na reciprocidade do aprender e ensinar. Há algum
tempo e com grande alegria, venho reencontrando nas redes sociais centenas de
ex-alunos espalhados pelo país. O carinho a atenção que me dispensam são a
prova de que não passei simplesmente em suas vidas e que deixei marcas
positivas de dedicação e compromisso como educadora e como ser humano. Ser
professora só me trouxe alegrias e gradativamente, a conquista de grandes
avanços na profissão. Entretanto, meus diplomas de graduação e de pós-graduação
lato sensu e stricto sensu, com concentração na área de Linguística, serviram
apenas para legitimar minhas atuações profissionais. Nunca esperei que eles
me trouxessem prestígio nem os procuro. Espero morrer assim, simples como os
versos que escrevo; não sei se bons ou ruins mas os compreendo em plenitude e
profundidade.
Qual foi primeiro livro que lhe deixou marcas positivas?
CRESTOMATIA, uma raridade que já não se encontra nas livrarias e sebos.
Quando começou a se interessar por literatura?
Desde quando me alfabetizei e percebi a amplitude das possibilidades que as
letras e as palavras me ofereciam, sobretudo, de conhecer o mundo.
Quando escreveu suas primeiras poesias? Qual o seu estilo de escrever
poesias?
Sempre gostei de poesia desde as primeiras séries
escolares e por isso, sempre era convidada para declamar em datas cívicas no
coreto da praça principal da cidade.
Sobre o meu estilo literário, tive que
inicialmente, apreender todas as influências das escolas literárias para
depois, criar o meu próprio, diferenciando-o dos demais: cada pessoa é única.
Há quanto tempo se dedica a escrever poesia? Gosta de todos os estilos
de poesia?
Já escrevia alguns rabiscos desde minha infância.
Adulta, frequentava os eventos do CCPC – Conselho Consultivo dos Produtores
de Cacau sempre convidada pelo meu queridíssimo mestre Clodomir Xavier de
Oliveira, de Ubaitaba, que presidiu aquela casa em cinco ou seis gestões.
Dentre esses eventos nunca faltei aos literários promovidos pelo PACCE –
Projeto Cultura Cacau dirigido por Telmo Padilha. Ali conheci Jorge Amado e
sua Zélia Gattai, James Amado, Hélio Pólvora e sua Maria, Cyro de Mattos,
numa de suas vindas do Rio de Janeiro, Antônio Olímpio e sua Amélia, Euclides
Neto, que sempre estava no cartório de imóveis de minha mãe, Gervásio Santos,
Antônio Nahud, Mary Kalid que também era minha vizinha, Ewerton Almeida, Írio
Athanásio dos Santos e sua Maricas, Salomão Mafuz e muitos outros cujos nomes
fogem agora de minha memória.
Nessa época áurea do nosso cacau e de nossa
região, tanto Clodomir Xavier quanto Telmo Padilha e Waly de Oliveira Lima,
já me incentivavam a publicar livros, mas com a vida atribulada de trabalhar,
cursar faculdade e criar família, optei por ouvir mais a razão que a emoção e
mesmo sentindo-me lisonjeada percebia que precisava amadurecer minha criação
literária e principalmente, que não teria tempo disponível para fazê-lo.
A dedicação maior veio depois que me aposentei na
universidade em 2004, já bastante amadurecida, mais exigente comigo mesma e
com plena consciência de que quem escreve precisa se impor limites.
Entretanto, como qualquer escritor, não estou livre de cometer falhas.
Não gosto de ler poesia sem compromisso com a
inteligência das palavras e dos leitores. Quando a percebo sem coesão e
coerência entre versos e estrofes, quando sequer consigo extrair inferências
onde sua contextualização perdeu-se num momento qualquer em nome do movimento
modernista ou pós-modernista e que recorrem a um amontoado de frases desconexas
dizendo ser poesia, abandono o livro.
Pensa em enveredar por outros tipos de produção literária? Um romance
por exemplo?
Às vezes escrevo em prosa alguns artigos e
crônicas. Cada poesia que escrevo já encerra em si a síntese de um romance
com início, meio e fim, recheado de metáforas e ritmos.
O que te inspira?
Não forço a inspiração, ela surge
espontaneamente, sem pressão, e começo a rabiscar em qualquer pedaço de
papel; sempre a partir da observação das maravilhas da natureza à disposição de
nossa sobrevivência – a isso chamo verdadeiramente de sagrado; do cotidiano
das contradições e injustiças sociais; do amor em todas as suas
manifestações; das questões existenciais de um modo geral.
Quais obras já publicou?
Até o momento participei de várias antologias
nacionais e internacionais e colaboro eventualmente com jornais regionais.
Escrevo para revistas nacionais e lusófonas. Meu primeiro livro solo ATALHOS
E DESCAMINHOS está em fase final de edição para atender os compromissos de
lançamento em vários estados do Brasil e no exterior.
Como se sente com todo esse
reconhecimento através dos vários convites que tem recebido nessa fase da sua
vida?
Ações e projetos humanos são passageiros e
limitados devido à temporalidade do próprio homem. Continuo simples em minha
essência sem qualquer vaidade e arrogância, principalmente por não me sentir
melhor que qualquer outro que escreve poesias. Falar de simplicidade faz-me
lembrar de dois dos nossos confrades: Margarida Cordeiro Fahel e Naomar Almeida.
Existe grandeza maior que a simplicidade natural e sem afetação deles?
Quais seus planos para o futuro?
Na parte literária, por enquanto, apenas lançar mais um livro: um bilíngue
porque já estou comprometida com alguns pedidos. No mais, só estou tentando
me organizar para atender às demandas dessa súbita notoriedade porque TUDO
PASSA E A VIDA CONTINUA.
À MULHER
Porque és mais
que a beleza,
muito mais
que um corpo.
Porque és mais
que um ventre
para o filho
e muito mais
que a ilusão
de um homem.
Porque tuas mãos
são alento, bênção
e sensatez.
Porque há paz
nas tuas palavras
quando rompes
com tua essência,
o estigma de fetiche.
Porque és nobre,
imensurável,
e amamentas
com a força
dos teus seios
e de tua luz,
a história
universal.
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