O
lançamento festivo aconteceu na
quinta-feira (26), no auditório
da FTC (Faculdade de Tecnologia e Ciências) de Itabuna)
Por
Celina Santos
Uma
poetisa que bailava com as palavras de maneira doce e, ao mesmo tempo, forte.
Ela deixou apenas dois livros publicados, mas permanece eternamente como
referência entre os grandes nomes da literatura regional. Estamos falando da
saudosa Valdelice Soares Pinheiro, cuja obra foi reunida na coletânea O canto
contido. O livro, organizado pelo escritor Cyro de Mattos, foi patrocinado pela
Academia de Letras de Itabuna (ALITA) e pela
empresa LIDI, do empresário e biomédico José Neto. Foi lançado na
quinta-feira (26), no auditório da FTC
(Faculdade de Tecnologia e Ciências).
A
publicação, que tem a marca da Editora Giostri, São Paulo, reúne 60 poemas publicados em vida pela
autora, por meio de dois livros – De dentro de mim e Pacto – e de outros
incluídos em antologias e em um CD.
Foi
uma noite festiva – com direito a
diversas manifestações culturais em louvor a Valdelice. Teve começo com o
depoimento da presidente da ALITA, Sônia Maron, que destacou a importância de Valdelice Soares Pinheiro para
a cultura de Itabuna. Dando sequência, o
escritor Cyro de Mattos, o professor Ruy Póvoas, o diretor da FTC, Lindomar
Coutinho, Heloísa Pinheiro, representando a família da homenageada, e a Reitora
da Uesc Adélia Pinheiro destacaram as qualidades de Valdelice Soares Pinheiro
não só como poetisa mas também como
professora universitária e
cativante figura humana, de jeito sereno e simples.
O auditório da FTC ficou lotado, durante o
tempo em que houve a homenagem e reconhecimento pela contribuição poética e
cultural deixada pela poetisa à região. Das 20, 30, quando tiveram início as manifestações, até as 11,30, todos
os que lá compareceram permaneceram no
recinto. O público ouviu poemas com
música e vozes, apreciou um vídeo
organizado por Raquel Rocha, com poemas declamados por Nevolanda Amorim
Pinheiro, bem como um recital de poesias de Valdelice Pinheiro, com a
participação dos atores Jorge Batista, Tereza Sá, Lucas Oliveira, Silvia Smith,
Aldenor Garcia e Telma Sá.
Vale
lembrar que houve, ainda, uma distribuição gratuita de mais de 100 exemplares
de “O Canto Contido” para as pessoas presentes ao local do evento.
O
organizador do livro O canto contido, o escritor Cyro de Mattos, , menciona a
importância de uma divulgação merecida do legado deixado por Valdelice Soares
Pinheiro. Afinal, para ele, se trata de “um dos mitos da poesia grapiúna”. A
seguir, uma entrevista concedida pelo autor, sobre a obra e seu objetivo.
O escritor Cyro de Mattos falando sobre a obra de Valdelice Pinheiro. |
Como o
senhor teve acesso aos poemas reunidos no livro “O canto contido”?
Tive o
prazer de pesquisar, anotar, organizar e prefaciar a coletânea. É constituída
dos livros De dentro de mim (1966) e Pacto (1977), além de poemas esparsos
publicados em antologias regionais e no CD Crônicas e poesias grapiúnas. Não
foi um trabalho exaustivo trabalhar na fatura dessa coletânea porque a produção
não é extensa, mas que precisava ser feita para divulgar e proporcionar maior alcance
à primeira fase da poesia de Valdelice, conhecida apenas por uns
pouquíssimos leitores. Penso que essa
primeira fase é importante como a segunda, constituída de 63 poemas inéditos,
os quais foram reunidos no livro A expressão poética de Valdelice Soares
Pinheiro (2002), coordenado por Maria de Lourdes Netto Simões e publicado pela
Editus, editora da Universidade Estadual de Santa Cruz.
Qual o
principal objetivo de fazer um “apanhado” dos escritos de Valdelice?
O
objetivo é dar oportunidade para que se conheça a parte primeira que foi
produzida pela autora em vida. Essa primeira fase é também importante,
levando-se em consideração que o discurso poético não fica distante dos poemas
inéditos escritos muitos anos depois e que foram publicados em livro pela
Editus, tanto na forma como no conteúdo. Além disso, tem o objetivo de
contribuir para que a poesia de uma verdadeira poetisa entre no circuito nacional, seja estudada e
reconhecida pela crítica como merece. E isso já começa a dar os primeiros
frutos. Enviei “O canto contido” para alguns poetas consagrados e professores
universitários. Impressionados com o discurso de Valdelice, lamentaram o
desconhecimento de uma poesia carregada de sabedoria, tecida com fina
sensibilidade, versos formando pequenos grandes poemas, autênticas joias. A Doutora em Letras, professora emérita da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Helena Parente Cunha, romancista consagrada, disse: “Amigo Cyro, recebi na
semana passada o livro de Valdelice Soares Pinheiro, que você prefaciou com o
gosto e o saber de quem anuncia uma voz
poética detentora da mais refinada sensibilidade. A leitura dos poemas de O
canto contido me encantou com a descoberta dessa poetisa que não precisa de muitas palavras para revelar a
delicadeza de seu ser e a sabedoria, às vezes triste, com que ela vê o mundo e
a vida individual e coletiva. O incomparável "Pacto ou como SãoFrancisco"
é um emocionante hino ao amor”. O poeta peruano Alfredo Pérez Alencart,
professor da Universidade de Salamanca, elogiou a poesia dessa desconhecida
poetisa grapiúna, de versos enxutos,
delicada no dizer e saber, autora
de poemas que são verdadeiras jóias. Ele divulgou na TV e Rádio Al Dia, de
Salamanca, a importância dessa poetisa
ter sido resgatada na coletânea O canto contido.
Como
surgiu a ideia para a elaboração do livro?
Tinha
desejo de fazer uma coletânea reunindo os poemas publicados em vida por
Valdelice para que sua poesia nessa primeira fase não ficasse relegada ao
exílio e esquecimento, pois se trata de boa poesia. Certa vez, ouvi da
presidente da Academia de Letras de Itabuna, a Juíza de Direito Sônia Maron,
seu desejo de publicar uma nova edição do livro De dentro de mim, o
primeiro de Valdelice, publicado há 49 anos, hoje uma raridade bibliográfica.
Revelei a ela que meu desejo era mais amplo, consistia na edição de um livro
contendo todos os poemas publicados em vida por Valdelice. Foi assim que nasceu a idéia da coletânea O
canto contido, que conseguiu sair do
desejo para se tornar realidade.
Como
situa a Academia de Letras de Itabuna (ALITA) no contexto de
elaboração/lançamento do livro? É a instituição quem promove ou entra como
apoio?
Cumprindo
seu papel institucional, que é o de servir às letras e de preservar a liberdade
de expressão, a Academia de Letras de Itabuna (ALITA) patrocinou a edição do
livro, que contou também com a parceria do empresário e biomédico José Neto,
proprietário do laboratório LIDI. Eu consegui a Editora Giostri, de São Paulo,
que tem mais de 600 títulos no catálogo, e breve vai publicar a segunda edição
de meu livro Os recuados, contos. Fiz a
revisão das provas e sugeri até a capa de
cores suaves, com um passarinho pousado em ramos leves, dando a idéia de que
seu canto é fundamental como o
amanhecer. Como assim me parece ser o canto contido da poesia de Valdelice
Pinheiro. O título do livro eu tirei de um verso da poeta.
O escritor Cyro de Mattos e a Presidente da Academia de Letras de Itabuna Sonia Maron. |