O DIVINA PROVIDENCIA DO MEU TEMPO.


                       João Otávio

         Tivemos mais uma comemoração da emancipação política de nossa Itabuna e, na lembrança dos fatos e pessoas que entraram na história da cidade e, na  história de cada um de nós, mormente dos que aqui nasceram e cresceram, aparece, como da maior importância, o velho Colégio Divina Providência, que funcionou como o   primeiro ginásio da cidade a  partir de  1946 mas , desde 1924, já existia como  escola primária. Foi mais uma iniciativa do Monsenhor Moysés Gonçalves do Couto que, ao criar a Sociedade São Vicente de Paulo, em 1913, propiciou a instalação do colégio que, também, preparava professores primários, numa cidade que ecebia, constantemente, novos moradores, e apresentava inúmeras carências. O jovem advogado itabunense Aziz Maron, de boa estirpe libanesa, arrendou o Colégio em 1940 e, a partir de  1946 , já sob a direção da Prof.ª Lindaura Brandão de Oliveira, inicia-se o curso ginasial, com a primeira turma diplomada em 1949. Entre os diplomados nessa pioneira turma estavam os irmãos Zequinha e Vitório Carmo, Florisvaldo Matos, Joel Brandão de Oliveira, José Carlos Miranda Oliveira, Denir Borges, Leila e Elza Haun, Carmen Hagge, Artur Silva, Olga Midlej, Noeme Modesto, Bartolomeu Rebouças.
      O Ginasio Divina Providência era o único da cidade e aceitava alunos de ambos os sexos; depois surgiu o Colégio São José da Ação Fraternal de Itabuna, com o curso ginasial mas, restrito ao sexo feminino; nos anos cinquenta, foram inaugurados os ginásios Firmino Alves, a Escola Técnica de Comércio e o Estadual.
       Para alcançar o curso ginasial, enfrentava-se o vexame do “exame de admissão ao ginásio”, quando o estudante tinha que vencer as provas de português, matemática, geografia e história; muitos jovens desistiam de continuar os estudos quando eram “barrados” nessa verdadeira  barreira; era  uma inusitada alegria e motivo de muita  festa, alcançar o ginásio.
         Fiz o admissão ao ginásio no final de 1951 e, já no início de 1952, encontrava-me nas salas do  velho prédio do Ginásio da  Divina Providência, nome de então,  para enfrentar uma nova etapa. Novos colegas, alguns desconhecidos, outros oriundos da Escola do temido Prof. Everton Alves Chalupp, onde passei quatro anos; colegas como os irmãos Helio e Humberto Carlos Noronha, Amandio Borges Vieira Falcão, os irmãos  Eudes e Uraci Simões Ramos, Ednei Paim, Sonia Carvalho de Almeida, Alex Maron, Alberto Messias Santos, Rosemary Hirs Rihan, Miguel Kalid Sobrinho, Juracy Marden Mendes Pires, meu primo Valter Castro de Macedo, Oto Celestino da Silva Filho, Rubinalva Nepomuceno e outros. Nas demais séries, alguns ainda  estão vivos  e atuando, outros já faleceram e ,assim, encontramos os “veteranos” Antonio Moreira Mendes, Manoel Gomes  São Matheus, Maria Rita Dantas, Ildo Simões  Ramos, Alda Pacheco, Avani Alpoim, Elianor Assis, Humberto Dantas, Cyro de Matos, Erundina Fones, Marcel Midlej, Jailton Leal, Antonio Oliveira de Santana, Nilson Carneiro, José Ferreira de Araújo Filho e tantos outros.
      Abria-se um mundo novo quando tomávamos conhecimento de novas disciplinas como latim, francês, desenho, canto orfeônico e trabalhos manuais e éramos apresentados a novos professores como  Litza Câmera, Odete Midlej, Helena de Borborema, Amalia Souza, Nestor Passos, João Arbage, Lodi Hage, José de Queiroz e, no segundo ano, era incorporado o inglês, sob a regência de Nivaldo Batista  Rebouças. Também havia a educação física e o instrutor dos  meninos era o comandante do Tiro de Guerra local, sargento Eladio de Castro ,que impunha uma disciplina  castrense aos alunos.No  meio do ano e, ao final, as temidas provas parciais, reprovando muita gente; vinha , de Ilhéus, em seu “carrão importado”, para fiscalizar as provas, o inspetor Osvaldo Ramos, sempre vestido de branco e impondo um respeito que ia da diretora aos alunos; era, solenemente tratado  como Senhor Osvaldo
  Aulas pelas manhãs; no intervalo, por volta das 10 horas, uma ida ao café Pomar, de “seu” Mariano, para um lanche; alguns aproveitavam o intervalo para “filar” as aulas  seguintes; à  tarde, alguns  estudavam em suas casas, outros iam para os “babas”, para as matinês nos cines Itabuna e Plaza e, ao final da tarde, passeio pelo centro da cidade, terminando na praça da Prefeitura, como era conhecida a atual praça Olinto Leone, palco de muita conversa e  muita “paquera”. Vez por outra, uma rês desgarrava-se  do grupo que ia em direção ao matadouro local, onde hoje situa-se o IMEAM, e botava a moçada para correr.
      Poucos professores profissionais naquela  época; os ginásios  recebiam a colaboração de médicos, advogados, sacerdotes, juízes, funcionários do Banco do Brasil e assim apareciam como docentes Paulo Fogueira, Plinio de Almeida,Phylomeno Alves Baptista Noronha, Afonso Maria Liguori de Lima, Alberto de Oliveira Seixas.
        A estudantada, vestindo a sua farda, garbosamente desfilava no 7 de setembro e, nesse mês, era eleita a Rainha dos  Estudantes; o velho campo da Liga Itabunense de Desportos Atléticos (LIDA) era o  palco do torneio estudantil e de algumas festas, como a da primavera; aí já aparecia a União dos  Estudantes Secundários de Itabuna (UESI) fundada pelo incentivo da  Prof.ª. Lourdes Maron e que teve uma atuação destacada no cenário estudantil da cidade, durante a década de cinquenta e início dos anos sessenta; a disputa pela direção da entidade era renhida e envolvia a  maioria dos estudantes.
       Depois dos quatro anos de ginásio, chegamos à conclusão, em 1955. Naquela época, conclusão do ginásio era motivo de muita  festa; recebimento do certificado, em sessão solene, com as  presenças de familiares e convidados e a festa de encerramento. Quando começamos, em 1952, o grupo ocupava duas salas mas, ao final, em 1995, a turma era pequena, pois muitos desistiram, alguns  foram sendo reprovados e  outros transferidos.Concluímos o curso ginasial, em 1955: Antonio Raimundo Pontes Seixas, Pedro Eamanoel Garcia Moreno de  Souza Leão, Reinaldo Andrade Souza, Sonia Carvalho de Almeida, Kardenar Antonio Noronha de Oliveira, Helio Alberto Noronha, Humbeto  Carlos Noronha, Joselito Nery, Samir Atallah Haun, Marlene Sodré, Lucia Pinillos Longuiños, Fernando Mello Pitta, Valmir Alves de Santana, Tadeu Silva  Ferreira, Heriberto Ramos e Alex Montenegro Maron. Festa à noite, no Itabuna Club, com direito à valsa, sob a paraninfia de Nicodemos Barreto.
          E assim, ficam as lembranças de uma quadra da vida muito prazerosa, sem muita responsabilidade mas com muitas amizades, muito companheirismo e muitos sonhos. O Divina Providência estará, sempre , na lembrança de todos que por lá passaram.