ENTREVISTANDO NOSSOS ACADÊMICOS - Gustavo Fernando Veloso Menezes



ENTREVISTANDO NOSSOS ACADÊMICOS

GUSTAVO FERNANDO VELOSO MENEZES - Cadeira n.15 






1. Quem é o entrevistado analisado sob sua própria ótica?

GV - Um ferradense obstinado que extrai da raça humana os elementos necessários à apologia da força de viver, por entender que a vida não é justa ou injusta e por reconhecer que enquanto seres humanos, precisamos estar além do bem e do mal.  

2. Quando começou a escrever e como define sua preferência literária para criar?

GV - Comecei a escrever ainda na adolescência de tanto ouvir as pessoas mais velhas contando repetidamente como história os fatos ocorridos em FERRADAS. Como consequência, o 1.º volume da coleção Raízes Grapiúnas já publicado, e os demais cinco volumes a publicar que estão relacionados a esse tão importante Patrimônio Histórico Municipal, Estadual e Nacional.

3. Seus textos são produzidos com facilidade ou demora algum tempo, reescrevendo-os?

GV – Com relativa facilidade, todavia diante da gama de informações reescrevo-os sem pressa para que não fiquem lacunas.

4. Qual o processo de criação dos seus textos? De onde vem a inspiração?

GV – Pesquisa metodológica quantitativa e qualitativa  inspirada em minha identificação com o pedaço de chão denominado FERRADAS que orgulhosamente aprendi a amar, cujas raízes estão fincadas na história colonial e imperial do Brasil, possuem vínculos com seis países de 1.º mundo e são integradas aos quatro mais importantes aldeamentos indígenas da America Latina.

5. Qual a obra predileta de sua autoria? Lembra de algum trecho?

GV – Apesar de estar em fase de revisão os cinco demais volumes da coleção, é sem dúvida o volume já publicado, Ferradas: um capítulo na história do Brasil. Itabuna : Via Litterarum, 2010. 208 p (Coleção: raízes grapiúnas; v. 1) ISBN da coleção: 978-85-98493-87-9 ISBN v. 1: 978-85-98493-88-6.

Páginas 90 a 92:

“Passados alguns anos, da visita de atividade missionária desenvolvida por Frei Ludovico de Liorne, pode-se perceber claramente a índole pacífica dos índios Camacã, aldeados em Ferradas a partir do fato publicado por H. Perret no Jornal Crepusculo de 5-08-1848, edição nº 11:

Alguns annos se tinham passado em perfeito socego, depois da fundação da Aldêa do Bom Padre, eis senão quando os Pataxós aproximam-se de noite das haitações, arrancando algumas raízes de mandioca, cortão caixos de bananas, e deixando tudo no chão, despedaçado, e pisado. O bom Ludovico que sobre os Camacanas vigia, como se fossem seus filhos, dá pelo acontecido, e manda chamar um dos Índios mais intelligente, por nome Caetano. Este consultado examina maduramente o caso, e decide que tal facto indica da parte dos visinhos deisposições para vingança, e guerra. Mas qual será o motivo de tão inexperada resolução? He miste descobri-lo: o Padre e alguns Camacans, fazem sem demora todas as indagações possíveis, porém de balde. Caetano novamente consultado, persiste na sua primitiva Idea, e sustenta que os Pataxós devem ter algum motivo de queixa. Pois aquelles povos simples, ignorando o machiavelismo da política, não declarão guerra, sem legitima razão. Continuarão as indagações, e por fim descobrio-se uma cova, formada pelos Camacans, n’uma vereda, perto do território dos Pataxós. Como semelhantes ciladas, em que apanhão Onças, Antas, e outros animaes, são cobertas com ramos, com folhas, e uma pequena camada de terra por cima, algum Pataxó nella sem dúvida cahio, e a tribu julgou que para smelhante fim tinha sido armada... A ser assim, não havia motivo sufficiente de guerra? Quantos soberanos, quantas nações houverao no mundo, que não procurarão pretextos tão legítimos!
Caetano fez logo participante o Padre da sua descoberta: taparão immediatamente o buraco; e conformando-se com o parecer do prudente Índio, estabeleceram no mesmo lugar uma espécie de meza, ou altar, formado com ramos de arvores; nelle depositarão facas, machados, e outros objectos, cobrindo tudo com folhas dispostas em forma de telhado.  Dias se passarão sem que objecto algum desapparecesse, e já n’Aldêa temião que uma sanguinolenta guerra arrebentasse... emfim deo-se pela falta dos machados, e logo depois tudo o mais e a esperança reapareceu; os Pataxós aceitando os presentes dos Camacans, mostravao favoráveis disposições, e estes erao os preliminares de um novo tratado de paz. Restava conclui a convenção. E revesti-la de todas as formalidades usadas entre as Altas Potencia. Eis de que modo S. Ex. o embaixador Caetano o conseguio: tomou uma faca, collocou-a transversalmente na vereda, e disse ao padre: se os Pataxós tiverem aceito as nossas dádivas, como parece indicar o desapparecimento dos objecos que lhes oferecemos, elles hão de collocar outra arma ao lado da nossa faca; se pelo contrario mettêrem ponta contra ponta, haverá guerra, e podemos nos preparar para o combate. Alguns dias depois indo visitar o lugar, acharão uma frecha dos Pataxós posta ao lado da faca... a tão agradável vista Caetano deo um grito, e pulou de alegre... com effeito, não somente a paz ficava consolidada, como até havia, segundo um dos artigos do tratado, alliança ofensiva e defensiva  entre as duas tribus... Oh! Celebres diplomatas Talleyrand, Meternich, Pozzo de Borgo, e tutti quanti; grandes fabricadores de notas, e ultimatums; que com tanta dextreza soubestes desarranjar os negócios da desgraçada Polônia, da infeliz Itália: um dia na história, se com o nosso selvagem Caetano vos pozerem em parallelo!”

                                         
6. Sem preocupações cronológicas e de estilo literário, quais os seus autores favoritos?

GV – Friedrich Nietzsche e Jorge Amado.

7. Cite um autor que influenciou ou mudou sua forma de ver o mundo.

GV – Friedrich Nietzsche e toda sua coleção.

8. Há quem diga que os poetas são loucos e sonhadores. Qual é a sua opinião pessoal?

GV – Entendo que poetizar é a ação que exterioriza uma condição emocional prévia, e como decorrência lógica, de cidadãos com o poder de equilíbrio submetido a qualquer prova.

9.Tem obras publicadas ou só publica em blogs, jornais e revistas?

GV – .  Como já respondi na Questão 5 tenho livro publicado,  mas  também  tenho   o site ferradasvirtual.com desde o ano de  2005  integrada  pela  revista  digital  O CREPÚSCULO FERRADENSE e o jornal digital FALA FERRADAS que tendo em vista o conteúdo quantitativo e qualitativo dos livros de minha autoria, estão passando por transformação

10. Encontra dificuldade para publicar e divulgar seus trabalhos?

GV -  Minhas publicações  são feitas com recursos próprios  mas dada a questão histórica de Ferradas, a imprensa escrita, falada e televisada fazem uma excelente cobertura, à altura da importância de nosso pedaço de chão.

11. Qual a sua opinião sobre a publicação digital (e-book), hoje tão atual?

GV – É a hospedagem da literatura em formato digital protegido por direitos autorais, cujo dispositivo de armazenamento em tempo real, consiste em custo acessível aos diversos tipos de usuários. Daí estar sendo muito utilizada virtualmente.

12. A internet fez surgir mais escritores. Houve realmente a democratização da literatura?

GV – Não se trata de democratização e sim de popularização pela quebra dos protocolos formais.

13. Tem prêmios literários?

GV – Os elogios pessoais e da imprensa além da inserção de meu nome como membro fundador da Academia de Letras de Itabuna - ALITA cadeira de n.º 15  cujo patrono é José Haroldo de Castro Vieira Lima. É um premio inestimável como reconhecimento  ao 1.º volume publicado de minha coleção.

14. Com a sua experiência que conselho daria a alguém que começasse a escrever nos dias atuais?

GV – Determinação e muita leitura para escrever bem.

15. O que acha imprescindível para um autor escrever bem?

GV – Criatividade, porque a qualidade do conteúdo da obra precisa ser inovadora. Muita leitura, para aprofundar-se e familiarizar-se com o uso correto da língua culta.

16. O escritor só se considera um escritor de verdade quando publica um livro. Por que a internet não traz esse sentimento de realização para o escritor?

GV – Entendo que é porque fica faltando ao autor o prazer e a satisfação de submeter  o resultado de sua determinação e criatividade inovadora  na concretização de um livro.

17. Para concluir nossa entrevista envie um texto em prosa ou em verso de sua autoria.
 
A Colonização, o Império e a República
 
A Colonização
em nome do progresso
e sob amarras leoninas,
explorou a boa-fé dos incautos,
subordinando-os ao estado
de dependência
e obediência.

O Império
impôs novos costumes,
contrariando o bom senso
e distorcendo os fatos.
Compeliram-nos a uma sucessão
de estados traumáticos,
pela sobrevivência.

A República
vendeu utopias,
fez nossos antepassados
crédulos e excluídos, 
prometendo-lhes construir
uma sociedade una, progressista,
e sucumbiu nossas esperanças
e qualidade de vida.