O MENINO MONTEIRO LOBATO - Cyro de Mattos




O Menino Monteiro Lobato


* Cyro de Mattos
  
O primeiro livro que li de Monteiro Lobato foi Reinações de Narizinh o. Quem me emprestou o  livro foi o amigo Duda, o filho de seu Zeca Freire, dono da farmácia na avenida do  comércio. O pai de  meu amigo tinha uma biblioteca bem sortida de autores brasileiros.  Como acontecera com o primeiro livro, li   As Caçadas de Pedrinho sem conseguir  tirar os olhos das cenas vivas e interessantes. Vibrei com as aventuras de Pedrinho, que saiu vitorioso na caçada de uma onça, como também no ataque de outros animais ao sítio de Dona Benta.
Aí não parei mais. Fui conhecendo, aos poucos, um mundo maravilhoso feito de um sem-fim de cenas vividas por personagens que habitavam um território feito de aventuras e mágicos sonhos. Cada livro que lia de Monteiro Lobato ficava pensando como era que cabia tanto caso na imaginação  de uma pessoa.
Das memórias de Emília, que ela resolveu contar ditando-as ao Visconde de Sabugosa, não esquecia  o episódio da visita das crianças inglesas ao sítio de Dona Benta, trazidas pelo velho almirante Brown.  Da Geografia de Dona Benta, em vez de eu estudar geografia nos livros de aula, viajei  com os novos amigos no navio “O Terror dos Mares” e saí pelo mundo  afora, fazendo paradas  em portos de países distantes onde conhecia gente diferente e via coisas notáveis  como nunca tinha visto.
A Chave do Tamanho, Os Doze Trabalhos de Hércules, Histórias de Tia Nastácia, Serões de Dona Benta, D. Quixote das Crianças, O Poço do Visconde. Fui conhecendo através desses livros histórias fascinantes  do mundo, que só Monteiro Lobato sabia inventar e gostava de contar. Percebia a cada livro lido que ele  contava numa língua que gente grande e pequena falavam aqui na terra.  As histórias iam se compondo ora  como se elas tivessem na minha imaginação, ora como se desenrolassem bem diante de meus olhos.
         De livro em livro, cheguei à conclusão de  que o amigo Monteiro Lobato resolveu morar no meu coração por um  motivo  simples: o seu de gente grande nunca deixou de ser criança.

*Cyro de Mattos é escritor e poeta. Premiado no Brasil e exterior.