POSSE DO ESCRITOR HÉLIO PÓLVORA NA COMEMORAÇÃO DOS DOIS ANOS DA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA






        Num clima de festa, com apresentação da Filarmônica Euterpe de Itabuna, a Academia de Letras de Itabuna, após a abertura dos trabalhos pelo seu presidente, Marcos Bandeira, comemorou dois anos de existência na última sexta-feira, dia 19 de abril, no salão nobre do campus da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Itabuna - FTC
       Autoridades, membros de instituições congêneres, confrades e confreiras da ALITA, professores, estudantes, todos amantes da literatura, participaram das celebrações, onde na ocasião também aconteceu com brilhantismo a posse do escritor Hélio Pólvora, contando com as honrosas presenças de alguns de seus familiares.
       A seguir, o nosso diretor de Ações Culturais, Jorge Batista, numa performance singular e belíssima, homenageou o indígena brasileiro, por ser o dia 19 de abril, Dia do Índio, abordando a sua literatura poética - um canto de louvor e respeito à natureza.




Palavras de agradecimento e despedida do
Presidente da ALITA, Marcos Bandeira


Autoridade presentes, Confrades e Confreiras
Caros amigos e amigas, demais convidados


     Com imensa alegria hoje comemoramos dois anos de existência da nossa querida Academia de Letras de Itabuna - ALITA.
Fundada em 19 de abril de 2011, em seus Estatutos, seu primeiro artigo, diz que tem por finalidade congregar intelectuais da região grapiúna, prestando-lhes apoio fraternal, cultural e material – cooperando assim, para o desenvolvimento da literatura, das ciências e das artes pátrias.
Essa atemporalidade de princípios consagra ainda mais estes objetivos na atualidade, ou seja, desde seu início entendeu a necessidade de reunir pessoas realmente preocupadas com nosso desenvolvimento amplo e sustentado nos  valores literários e artísticos grapiúnas.
     A missão que me foi confiada por este sodalício ao me eleger como seu primeiro presidente tinha um desiderato: ajudar a dar os primeiros passos, acolhê-la em sua própria casa, criar uma consciência junto aos confrades, confreiras e à própria sociedade da importância da instituição que nascia com a vocação de ser perene, enfim, criar sua própria identidade como promovedora da literatura, das artes e ciências humanas, em suas diversas manifestações, voltadas precipuamente para a preservação da memória da cultura regional e nacional. Nesse sentido, creio que o objetivo traçado ao longo desses dois anos, em que pese os obstáculos e as dificuldades, foi alcançado, pois conseguimos a nossa sede, inauguramos o nosso site de  indiscutível qualidade e acessado por intelectuais de todo o mundo e nos aproximamos da sociedade com a inesquecível solenidade de posse dos primeiros acadêmicos fundadores e efetivos, realizada neste mesmo espaço, que hoje novamente nos acolhe; aliás, nos acolhe em todos os anos quando aqui comemoramos o aniversário de fundação de nossa Academia de Letras; na comemoração ao Centenário de Jorge Amado, nossos confrades e confreiras realizaram magistrais palestras focando ângulos diversos sobre a vida e obra do famoso escritor grapiúna nas universidades locais, nas escolas de Ensino Médio e no museu da Casa de Jorge Amado, em Ferradas; prestamos, na praça Olinto Leone, uma homenagem à Semana da Pátria com poesias dramatizadas relacionadas à data com apresentação da Filarmônica Euterpe de Itabuna, na pessoa do seu maestro, professor Heleno José da Silva; num encontro mágico e pioneiro no mundo, a Academia de Letras foi acolhida pelo Terreiro de candomblé ILÊ AXÉ IJEXÁ ORIXÁ OLUFON, do nosso confrade e babalorixá Ruy Póvoas, desnudando e revelando para a sociedade toda a riqueza da sua cultura, firmando uma forte parceria para consagrar o dia da Consciência Negra, todos os anos naquele local; na comemoração do primeiro ano da ALITA realizamos um grande evento  novamente neste espaço da FTC,  dando posse a mais um acadêmico, João Otávio de Macedo, conhecido e lido por toda a comunidade e tivemos oportunidade de conhecer mais profundamente a cultura indígena através da palestra do  índio e professor da UESC -  Dr. José Ferreira; em novembro do 2012, no dia do aniversário de nosso patrono, Adonias Flho, nos deslocamos para a sua terra, a querida cidade de Itajuípe, onde foram empossados novos membros, os confrades Silmara Oliveira, Jorge Batista e Aleilton Fonseca, escritor renomado que recebe honrarias de vários países; firmamos parceria com os proprietários do Museu da Casa Verde, Wanderley Rodrigues e Romilda e a Filarmônica Euterpe de Itabuna, doravante parceira de nossas solenidades; lançamos livros inéditos de autores alitanos, como Cyro de Mattos, Sione Porto, aqui em Itabuna e Renato Prata, Aleilton Fonseca, Cyro de Mattos e Roberto Sidnei Macedo, em Salvador, com previsão de novos lançamentos inéditos durante o decorrer deste ano, de grande importância para a literatura e cultura geral nas áreas das Ciências Humanas e Sociais, Jurídicas e Literárias dos nossos escritores; comparecemos, a convite da Academia de Letras da Bahia, na pessoa de Sônia Maron, à solenidade de abertura de suas atividades neste ano, em Salvador; realizamos eleição para nova mesa diretora - biênio 2013/2014 e hoje, aqui estamos, comemorando dois anos - criança ainda - de existência de nossa Academia de Letras de Itabuna, dando posse ao nosso querido e festejado escritor grapiúna, o confrade Hélio Pólvora, como também aos novos dirigentes da instituição, além de prestarmos uma homenagem significativa de reconhecimento à literatura indígena, com apresentação de nosso confrade Jorge Batista, que hoje toma posse como nosso primeiro diretor de eventos culturais da ALITA.
     Desta forma, sem embargo das ingentes dificuldades, posso dizer, como o poeta Fernando Pessoa, que tudo vale a pena quando a alma não é pequena! A alma dessa academia é incomensurável e se enriquece a cada dia com a contribuição de cada um de seus membros. Assim, digo aos senhores e senhoras, que a minha missão nesse primeiro momento foi cumprida, pois a ALITA não é mais um mero sonho, ela existe e já caminha com suas próprias pernas, merecendo o reconhecimento e o respeito de toda a sociedade. É verdade que há muito por fazer e avançar, mas é preciso também que outros olhares conduzam o seu destino para um porto seguro. E não tenho dúvida, que nossa presidente Sônia Maron, e a Vice, Ceres Marylise Rebouças de Souza, com ajuda de todos os diretores, confrades e confreiras, saberão, com serenidade, equilíbrio e humanismo, enfrentar os novos desafios para alçar voos mais altos.
     Deixo a presidência com a consciência tranquila do dever cumprido na busca da realização dos objetivos iniciais da academia.
     Assim, gostaria muito de agradecer a contribuição de Sônia Maron, de Ceres Marylise, a quem sempre disse que é o corpo e a alma desta instituição, a Lurdes Bertol, a Gustavo Veloso, Rilvan Batista, Ruy Póvoas, Cyro de Matos, Maria Luíza Nora, Janete Ruiz, Carlos Passos, Antonio Laranjeiras, enfim a todos os confrades e confreiras que contribuíram para a consolidação de nossa instituição. Aqui também faço um agradecimento especial ao diretor da FTC, Cristiano Lobo, pela forma lhana e cordial que sempre dispensou à ALITA.
     A TODOS, o meu muito obrigado!




PARABÉNS, ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA, PELO SEU SEGUNDO ANO DE PROFÍCUA EXISTÊNCIA!

      Certa vez, quando o cacau pesava na pauta das exportações, o poeta Manuel Bandeira perguntou a Adonias Filho:
      “O que a sua região produz mais, além de cacau?”
     “Produz escritores”, respondeu de pronto o romancista grapiúna do Itajuípe.
      Fui testemunha desse diálogo, no Rio de Janeiro, motivo que me leva a novamente citá-lo. E desta feita com uma conclusão fácil: se escritores, aristas e agentes sociais vicejam  aqui, às margens do Rio Cachoeira, impõe-se  uma Academia.
      Mulheres e homens de pensamento transformam com maior rapidez suas ânsias em ações culturais e assistenciais de efeitos multiplicadores quando reunidos em um clube.
      Felizmente surgiu a Academia de Letras de Itabuna, a Alita, por iniciativa de um grupo de que faziam parte Cyro de Mattos, Marcos Bandeira, Ceres Marylise Rebouças de Souza, Antônio Lopes, Margarida Cordeiro Fahel, Sônia Maron, Maria Luísa Nora, Ruy Póvoas e outros abnegados.
      A instituição completa dois anos. Um retrospectivo olhar avaliador mostrará que já fez estrada, que são numerosos os marcos fincados no percurso.
      Com a Alita, a sociedade itabunense atesta que, além de pragmática e dinâmica, além da natural vocação para o comércio e os serviços, também gosta de sonhar para, depois, dar-se ao deleite de contemplar a concretude dos seus sonhos.
      Parabéns, ALITA!  Parabéns, Itabuna!

Hélio Pólvora
(Lido por Dra. Janete Ruiz de Macêdo)






Vídeo - Hélio Pólvora prêmio SP Literatura
Romance Inúteis Luas Obscenas







           QUEM SOU E NÃO ME ACHO

*Hélio Pólvora

     Há perguntas complicadas. A pior de todas é aquela que às vezes eu me faço: quem é Hélio Pólvora? Se me olho no espelho, em que não me vejo e sim a um sujeito apenas conhecido, provavelmente o meu sósia, ele nada esclarece. Os espelhos existem para confirmar ou assustar. Ou refletem o belo ou a fera.
     No meu caso, ele ainda não se definiu. Se vier a optar pela fera, decerto soltarei um berro e me atirarei pela janela. Calma, Ceres Marylise, ainda não aconteceu.
     O que sei ao certo a meu respeito está nos documentos ditos oficiais: nascimento numa fazenda de cacau num certo dia de certo mês do longínquo ano de 1928. Pois é, façam as contas e verão que estou ficando velho. Uma idade espantosa. Por que, ou melhor: para que a longevidade? Talvez a vida me reserve o privilégio de resolver o conflito palestino-israelense. Ou cometer uma obra-prima de romance que não teria leitores nestes tempos de hedonismo e aventuras radicais.
     As biografias tradicionais são enfadonhas, mera enumeração de fatos e dados, de muitos êxitos e raros fracassos. Pressinto que esta será heterodoxa. Já no começo da meninice eu andava de dedo espetado no ar, a escrever nas paredes da casa. Esse primeiro indício de loucura, segundo pensou a família, coincidiu com o aprendizado do ABC.
    Grande descoberta que eu não trocaria por uma jornada ao fundo do universo estelar. Do ABC pulei logo para o jornal e o livro. As leituras e mais adiante, a escrita, deram sentido à vida. Cinema, música e a contemplação de artes plásticas ajudaram. Sou um grande devedor da literatura. Devo, não nego; pago quando puder.
     A solidão e a vaga tristeza de uma fazenda de cacau, sobretudo à tarde, quando o crepúsculo esparge as primeiras sombras, e à noite, quando os paredões de treva se fecham, explicam o resto. Se me virem sozinho, ensimesmado, no meio da multidão insensata, guardem a piedade: estou cercado de personagens, dialogo com Emma Bovary, Lucien de Rubempré, Jude Fawley, Ana Kariênina, Ivan Karamázovi, Bento Santiago. A convivência é boa, raramente dissentimos.
    Sou fragmentado, estou sempre a recolher os meus pedaços - e estes vibram. Espalho-me, tal e qual Mário de Andrade depois de morto, por ficções alheias e próprias. Desisti de conhecer-me porque a tarefa seria longa e em nada aumentaria a conta bancária. Aconselho o mesmo a quem quiser me conhecer: fiquem ao largo, na órbita das aparências, de vez que nem mesmo João Pedro, considerado por alguns críticos o meu alter ego, personagem do romance Don Solidon, permite a descoberta de Hélio Pólvora. Seria mais fácil e mais prático chegar à pólvora, se os chineses antigos não houvessem patenteado a descoberta, importante para os terroristas e pirotécnicos de hoje.
    Pronto, terminou a busca. Autobiografias heterodoxas são assim mesmo: fluidas, espectrais, farrapos de névoas. Corrijo-me a tempo: a busca prossegue, porque na verdade ainda não me encontrei e quanto mais me procuro mais vejo que não estou mais onde me deixara ficar.
    Sempre que me ponho em um lugar, volto e não me encontro. Tudo mudou, a começar por mim; a paisagem é outra, as pessoas trocaram de identidade.
    Tenho andado: viagens longas que parecem dirigidas à esquina da minha rua: viagens curtas à roda de mim, do meu quarto, que parecem descidas ao âmago de trevas ou ao fundo luminoso de mares.
     Sou de Itabuna. Da época, meados do século passado, em que havia dois cinemas com filmes, notadamente seriados, que nos inflamavam o imaginário; e pessoas muito especiais: o educador e político Aziz Maron, elegante e lúcido; Ubaldino Brandão, que eu avistava à noite, pela janela aberta de sua casa, debruçado sobre um livro, à luz forte da pantalha; Alberto Galvão, culto e sensível, com quem eu conversava às vezes em bares; Nicodemos Barretto, o da casa bancária e loja de ferragens, que se detinha na caminhada  pós-jantar para puxar conversa com um mero adolescente; Moisés Alves, que me emprestava volumes de Eça de Queiroz encadernados em marroquim vermelho; Firmino Rocha em suas crises; o footing das moças casadoiras pela então Rua J.J. Seabra, ou na Praça Olintho Leone; o Rio Cachoeira limpo no qual me banhava e pescava; os amigos Amarante Santiago, José Mendes e Telmo Padilha, este sempre engravatado e de terno de linho branco; Hélio Menezes, a ler Oscar Wllde no original e soltar gargalhadas; o prefeito Alcântara.
    A fieira de imagens seria longa; melhor parar antes de novas omissões. Esta é a Itabuna que conheci e vivi e mantenho acesa nas esquinas, praças e becos da memória. Afastei-me 32 anos, no Rio de Janeiro, onde inaugurei uma padaria espiritual – e Itabuna  mudou. Eu também mudei, não há como voltar, ambos expatriados.
    Acrescento que publiquei 12 ou 13 livros de histórias curtas a que chamam contos. Creio haver perpetrado uns 120 contos; melhor se fossem contos de réis: eu os teria aplicado e talvez possuísse hoje um castelo à beira-mar, para conforto da minha Annabel Lee. Como eram apenas contos literários, resta-me catar as pedras do caminho para o sonhado solar, conforme pensou o poeta Fernando Pessoa.
   Publiquei ultimamente dois romances, Inúteis Luas Obscenas e Don Solidon, e tenho outro engatilhado. Sou membro efetivo de quatro academias de letras, incluindo a brava Alita, do berço itabunense, e me considero um grande escritor digno do Nobel – mas não necessariamente o maior da minha rua. Acredito mais nos poderes da ficção do que na realidade. E Itabuna está toda ela, filtrada pela sensibilidade, nos meus contos, romances e crônicas de visgo sul baiano.
    Está feito, prezada acadêmica. O essencial foi dito nesta (auto)biografia, o resto é blablablá. Escrevi muito: culpa do outro, o meu sósia, que às vezes gosta de me arreliar.

           
*Hélio Pólvora, escritor várias vezes premiado, é jornalista, editor, cronista, crítico de cinema e literatura e tradutor de centenas de contos, romances e ensaios. É membro da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Brasília, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna





DISCURSO DE POSSE DE HÉLIO PÓLVORA NA
ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA A 19 DE ABRIL DE 2013, PROFERIDO POR SUA REPRESENTANTE LEGAL PARA O ATO,
CERES MARYLISE REBOUÇAS DE SOUZA 



      “Todos cantam sua terra, também vou cantar a minha”. O poeta Casimiro de Abreu  louvou  nestes versos juvenis os esplendores da sua terra fluminense. Eu, a caminho dos 85 anos, sigo o seu exemplo a propósito da minha terra de Itabuna, com os resíduos de lirismo que a idade avançada porventura ainda guarde.
       As cidades levam sobre os homens a vantagem de ter muitas almas, uma em cada rua. E cada esquina esconde um menino que nos espreita com assombro. Tal assombro nada mais é do que a expectativa, a ânsia do amanhã, do que será ele amanhã e o que fará.
       Eu me descobri em Itabuna quando esta cidade, hoje de porte médio, tinha uns 30 mil habitantes e vivia como que aconchegada a si mesma, como se fora uma grande família. Nasci no ventre dos cacauais, onde predomina o silêncio e o imaginário vem a ser atiçado. De modo que trouxe para a cidade um tanto do meu jeito de ser recluso e evasivo, melancólico e às vezes exultante.
       Éramos assim, os velhos grapiúnas: estávamos no pódio ou, atrasados, reuníamos forças para galgá-lo. Hoje vagamos na planície, um tanto desconsolados. Felizmente esta cidade de Itabuna, apesar dos malfeitos da política, tem um metabolismo de hidra de Lerna: se lhe cortam um fôlego, logo repontam dez. É uma cidade estoica, de raro tino comercial, fundada por desbravadores que gostavam de empurrar fronteiras.
       Creio que, por isso, ela se distanciou de mim, antes que eu dela me distanciasse. Aconteceu a 16 de janeiro de 1953, quando embarquei para o Rio de Janeiro, numa daquelas aeronaves de cujas turbinas escapavam labaredas. Fiquei 32 anos no exílio voluntário. Ao regressar, a cidade era outra, espalhara-se aos quatro ventos. Trocamos olhares desconfiados e continuaríamos assim, meio antípodas, não fora a insistência do escritor Cyro de Mattos em reatar laços, ao propor-me para esta Academia de Letras.
       No entanto, algo ainda nos separa. De um lado, eu procuro a Itabuna dos meus idos de menino e adolescente, quando estudei com o professor Antônio Lira, que me ensinou a conjugar verbos irregulares, e com a bondosa professora Sancha Galvão, que me emprestava clássicos de literatura infanto-juvenil. De outro lado, a cidade se nega a continuar como era então, isto é: filtrada nas emoções de um menino inquiridor.
       Mas a planta-baixa da cidade, esta eu a tenho na memória, gravada com um fogo de sarça ardente. Tanto assim que, de súbito, andando pelas ruas, dou com um beco, uma travessa, um quarteirão que me fazem pensar o seguinte: as rosas de Malherbe duram mais que o espaço efêmero de uma só manhã.
       O mesmo ocorre com a minha origem rural: estão plantadas na memória árvores que me deram sombra e frutos, e ainda hoje estendem galhos secos na tentativa onírica de amparar-me. Vejo-as sempre com a impressionante nitidez lívida do relâmpago.
       Senhoras e senhores acadêmicos:
       Já perceberam, decerto, que estas são páginas de saudade. E que, uma vez na estrada, não tenho como retroceder. Se passo pela antiga Rua do Quartel-Velho, às primeiras horas da noite, vejo pela janela que o ex-prefeito Ubaldino Brandão estuda Direito à luz forte de uma pantalha. E que quase em frente, o advogado Nathan Coutinho estará à procura da chave certa com que fechar o último soneto de sua lavra, a ser estampado no jornal A Época. Se não for tarde, talvez eu ainda encontre Nicodemos Barreto, dono de loja de ferragens e casa bancária, a fazer o quilo, com as mãos trançadas às costas, na Rua J. J. Seabra, hoje Avenida do Cinquentenário. Ou, quem sabe, o coronel Oscar Marinho me detenha na calçada para uma prosa rápida. Ambos sabem que sou dado a leituras e às vezes me querem por à prova, verificar se o meu imaginário suporta a insustentável leveza da experiência prática.
       Nessas andanças por uma Itabuna babilônica não haverão de faltar sons de piano. Posso encostar-me à janela baixa e ouvir absorto, sem assustar a moça que dedilha o teclado. Da Praça Olintho Leone chega a voz enrouquecida do poeta Firmino Rocha a declamar. O Rio Cachoeira escorre manso. Na margem oposta, a campina é varada pelo fogo-fátuo de vaga-lumes. O poeta Telmo Padilha faz o footing no seu terno de todos os dias: branco, engomado, paletó e gravata. Noite tardia, na Praça Adami, o promotor Jonathas Milhomens, com um leve odor de uísque na voz, talvez me dê um abraço e proteste: “Dr. Jonathas, não! Jonathas!” 
       De regresso à Babilônia, nessas andanças por entre muralhas cobertas de musgo, eu me aproximo, quase sem querer, do velho endereço da família, uma chácara no alto do Pontalzinho, de onde eu soltava pipas sobre o centro urbano. Houve outros endereços: dois na Rua Ruffo Galvão; dois na Rua do Lopes, atual Av. Duque de Caxias.
       Mas como não revisitar a memória de Alberto Galvão, advogado, homem culto e triste, com quem eu discutia às vezes, em um bar, temas existenciais? Como esquecer Aziz Maron, deputado estadual e federal, um dos maiores educadores que Itabuna conheceu, pessoa de fino trato, de modos gentis e cativantes? Havia ainda Hélio Menezes, morador na antiga Rua da Jaqueira, hoje Av. Fernando Cordier. Esse outro Hélio dava-se ao luxo de ler os paradoxos de Oscar Wilde em inglês e reagia às gargalhadas. Havia ainda Moysés Alves, com as obras completas de Eça de Queiroz encadernadas em vermelho, uma tentação.
       Quanto a Cyro de Mattos, conheci-o mais tarde, em uma das minhas visitas. Era ele um jovem escritor iniciante e me impressionou o ardor com que vivia a faina literária. Percebi logo que daqueles matos sairia caça grossa. Pois escrever, segundo lembrou Ernest Hemingway, significa caçar.
Houve, é claro, outros conhecimentos significativos: o inteligente e atualizado Antônio Lopes; a gentil Maria Luíza Nora, uma das musas do Rio Cachoeira; a professora Tica Simões; o contista e romancista Aleilton Fonseca, jovem talento já reconhecido, mestre e doutor em letras, que agora me dá a alegria de  receber-me nesta Casa onde todos o admiram.
       Bem, seriam muitas as lembranças. Não quero alongar-me. Assim foi cozido o barro deste que agora vos fala, e melodiosamente,  pela boca da amiga e poeta Ceres Marylise Rebouças de Souza.
       O vício da leitura, que ainda carrego, e forte, veio dos longes da infância, do ermo da fazenda de cacau, onde aprendi a conviver com princesas e mendigos, flibusteiros e espadachins, cardeais, malfeitores e heróis de variado calibre. O livro sempre foi o companheiro supremo, graças à mudez que lhe impede traições. Sempre disponível, de humor estável e lições inesquecíveis quanto à perigosa arte de viver.
       Muitos escritores acreditaram na autoeducação. Um destes foi Jean-Jacques Rousseau. Outro, Anton Tchékhov. Na literatura brasileira há o caso de Machado de Assis. Espanta-me ainda hoje que, menino de morro e mulato, em época de acentuado preconceito racial, ele houvesse subido na vida, passo a passo e sozinho, até sentar-se ao lado dos deuses do ofício. Aprendiz de tipógrafo, jornalista, cronista, poeta, crítico literário e, sobretudo, contista e romancista, ninguém escreveu melhor, dificilmente alguém o fará. É ele o patrono da Cadeira que me cumpre ocupar. Poderia ser igualmente patrono de todos os autodidatas, ou seja: dos que decidiram encerrar a orientação da escola para iniciar o verdadeiro, para eles, processo de educação pessoal.
       Não vai aqui uma crítica à escola, seja básica ou superior. Ela será sempre um guia, um orientador, um disciplinador, mas convém lembrar o brocardo latino segundo o qual  aprendemos não para a escola, mas para a vida – a vida dura, áspera, que Máximo Górki chamou “minhas universidades”; a “raw life” a que se referiu Hemingway; a vida semelhante àquele touro que, no dizer do poeta García Lorca, temos de enfrentar, nem que seja com traje emprestado de toureador; em suma, o “viver é perigoso” de João Guimarães Rosa.
       Temos vários casos de autodidatas nas letras sul baianas. Sosígenes Costa, no meu entender nosso maior poeta depois de Castro Alves, aprimorou o dom de que era portador na leitura sistematizada e nas cismas de eremita; Jorge Amado, embora com diploma de advogado, jamais exerceu a profissão, porque preferia ser “doutor em romance”, tal a empatia que o ligava ao povo e suas causas; Adonias Filho abriu estrada própria, para cima, à beira de vertentes, nisso trocando a facilidade de expressão pelas dificuldades de percurso; e Jorge Medauar, o grande contista de Água Preta, e também poeta valoroso, aprendeu a narrar através da leitura, da observação direta e do conhecimento intimo dos temas.
       Se um autor vale a pena, o que é uma maneira nobre de valer a si mesmo, haverá o momento em que cristalizará suas potencialidades; em outras palavras, amadurece. Então esse criador verdadeiro escreverá, antes e acima de tudo, para um leitor sem rosto, que poderá resumir-se a si próprio; ou escreverá por lhe faltarem outros dons; ou por fatalidade, expiação, purgação. Escreverá porque sente que essa atividade, tantas vezes de compensação irrisória, traz sentido e lógica à sua vida. Escreverá por não ter à mão outro meio de domar os seus tormentos. Em resumo, ele escreverá cego, às apalpadelas, como disse Henry James.
       O reconhecimento, se vier, será um conforto. Os prêmios literários constituem meros e benéficos acidentes de trabalho. A propaganda pessoal terá de ser limitada por força de pudores.
       Nesse caso, pouco importará a tal escritor ter os quinhentos leitores previstos por Tchékhov; ou os cem calculados por Stendhal; ou os dez, talvez cinco do defunto autor Brás Cubas. 
       O sul baiano é rico em temas que entram pelos olhos e ouvidos, e tem uma paisagem altamente plástica. O sul baiano pulsa de muitos conflitos latentes, que estão a pedir mais imaginário do que conhecimento, segundo receita do sábio Einstein. Então não há mesmo jeito: estamos condenados a escrever ficções e poesias e ensaios.
       Mas a empreitada é árdua. A literatura é uma dama caprichosa que exige antes de tudo dedicação plena. Nós, leitores e autores, somos instados a fazer um curso prévio de chevaliers servants. Mesmo assim, e apesar de todos os nossos salamaleques, chegará o instante em que ela insinuará a ruptura. Será preciso um mergulho crítico, vertical, um insight fundo para mudar de tom e de timbre e traçar novas atitudes. A ruptura de Machado de Assis ocorreu a partir do seu quarto romance, Iaiá Garcia, quando ele renuncia aos lances românticos em voga e, indiferente ao naturalismo, abraça o ficcionismo de teor psicológico, descobre a sutil ironia de narradores ingleses e contrai um pessimismo quase funéreo.
       Surge, então, mais que o escritor, o ficcionista; mais que o prosador, o narrador; mais que o formulador de enredos, o analista de almas - tarefas a que o velho Machado se dedica com alguma dissimulação perversa nas obras ditas “da maturidade”, que vão de Memórias Póstumas de Brás Cubas a Memorial de Aires, passando por Quincas Borba, Dom Casmurro e Esaú e Jacó. Paralelamente ele alcançava no conto as alturas de Edgar Poe, Guy de Maupassant e Anton Tchékhov, os pilares mundiais deste gênero hoje tão desfigurado.
       Não sou de colecionar glórias, sejam as grandes, que não as tive, sejam as pequenas, que me reacendem o ânimo, mas quero consignar aqui a alegria – mais que o orgulho – de ser incluído pelo então Ministério da Educação e Cultura na Comissão Machado de Assis, incumbida de levantar, na década 60 do século anterior, o texto definitivo da obra machadiana e publicá-lo em edições com estudos críticos.
       Senhor Presidente Marcos Bandeira, senhores acadêmicos:
      Quando quis declinar, e fui vencido, da satisfação de compor este sodalício, aleguei, a exemplo de Erico Verissimo em relação à Academia Brasileira, que já me considerava uma vaga. Não pensei então na minha obra literária, se me permitem assim designá-la. Revendo-a agora, nas agruras de quem foi jornalista de ponta a ponta, mesmo no exercício de eventuais atividades burocráticas, percebo que também ela, a obra, se completa.
       São uma dezena de coletâneas de contos, cinco volumes de crônicas, três romances recentes, um deles pronto para publicação, três de crítica literária e um volume de memórias, a sair, sem contar participações em antologias e obras de parceria. Também ficam ao relento cinco ou seis dezenas de traduções de livros, entre as quais obras de Ernest Hemingway, William Faulkner, Mary McCarthy, Isaiah Berlin, Bertrand Russell, Albert Soboul, Virginia Woolf, Isaac Bashevis Singer.
       O decoro me impede de opinar sobre os meus cometimentos. Mestre Graciliano Ramos reagia com palavrões a elogios súbitos, dos quais desconfiava; eu enrubesço fortemente, prática que as donzelas de hoje felizmente ignoram. Quanto ao conto literário, que constitui a minha paixão, já expus teorias em livros, entrevistas e prefácios, nelas incluída a introdução a uma antologia pessoal, Contos e Novelas Escolhidos, a sair ainda neste semestre, em dois alentados tomos, edição conjunta da Academia de Letras da Bahia e Assembleia Legislativa do Estado.
      Aproveito o ensejo para outro comercial: a Fundação Pedro Calmon aprovou para este ano a Coleção Hélio Pólvora, a saber: a reedição conjunta de cinco livros de contos, compreendendo Estranhos e Assustados, Noites Vivas, Massacre no Km 13, O Grito da Perdiz e Mar de Azov, todos com suas respectivas referências críticas.
      Nestes volumes e em outros mais recentes há uma reincidência específica de temas, tipos, enredos e paisagens sul baianos  transcritos sob a ótica psicossocial. Prova de que a terra natal e eu nos distanciamos sem nos perder de vista, um e outro algemados emocionalmente ou portando tornozeleiras eletrônicas contra vãs tentativas de fuga.
      O tempo ainda não é chegado, ao contrário do que disse o meu compadre Euclides Neto, de Ipiaú, um escritor de pés no chão e alma nas alturas. Mas a hora do balanço se aproxima. Do Deve e Haver dos antigos contabilistas. Juro que não matei, não roubei, não traí – embora me falte a prova conclusiva das gravações sigilosas. Terão de acreditar na minha palavra de ficcionista. Da vida, que é trabalhosa e às vezes bela, lamento apenas a incapacidade de substituir alguns contos literários por múltiplos do antigo conto de réis.
      Dito isso, e com sinceros agradecimentos pela atenção dos senhores, me declaro amigo atento, fiel e obrigado – e se não ocupo agora, de corpo presente, a Cadeira 17 é porque nela prefiro ver por enquanto o seu legítimo e vero ocupante Machado de Assis.
      Agradeço a presença de todos.



DISCURSO DE SAUDAÇÃO
A HÉLIO PÓLVORA,  UM  MESTRE DA PROSA
E DO  ESTILO - Aleilton Fonseca



A literatura é uma dama caprichosa que exige antes de tudo dedicação plena. Nós, leitores e autores, somos instados a fazer um curso prévio de chevaliers servants.

Hélio Polvora


      Estas palavras do escritor Hélio Pólvora demonstram, com espírito e estilo, que o ofício da literatura não decorre de um gesto volitivo, mas de uma destinação de vida, como uma espécie de imposição interior, como mister de uma arte que não se doa nem se entrega, mas sempre inquieta e desafia, exigindo permanentemente do escritor a perícia do esgrimista baudelaireano, a lutar com palavras mal rompe a manhã, como assinalou Carlos Drummond de Andrade.
      Ungido pela arte, eleito pelos pares. O escritor – em sua plenitude, com obra notável e consolidada, – deve ser recebido no recinto simbólico dos que merecem a imortalidade da inscrição no memorial das letras, como tesouro dos coetâneos e herança para os pósteros.
      Para conferir honra a estes seres das letras e cultivar o seu legado, as academias se erguem e se impõem, como espaço plural das culturas, ao atar os laços entre o intento individual e o ideal coletivo, num círculo representativo dos diversos labores, ofícios e pendores da atividade intelectual e da criação literária. De fato, aos escritores se deve reservar o centro desse círculo de saberes e reconhecimentos.
      Hélio Pólvora de Almeida. Este é o nome heptassílabo que se torna legenda no seio desta memorável Academia de Letras de Itabuna. A caminhada deste homem até a notável consagração em sua terra natal começa em 1928, quando o menino Hélio vem à luz, em pleno reino dos cacauais, crescendo por entre plantios, aceiros, regatos e arvoredos, aos abraços do sol, ao hálito da chuva. E daí saiu aos lugares de perto e de longe, a apascentar palavras, inventar imagens e engendrar enredos.   
      Haveria de ser jornalista, pois que alcançou as primeiras letras pelo ensino de sua progenitora, e dando-se ao infante exercício de decifrador de manchetes de jornais. Daí para a estante foi só um pulo de menino, desde as letras primárias, até palmilhar cada um dos livros do acervo familiar.
      A partir de 1942, das brisas dos cacauais às sombras dos casarios soteropolitanos da capital, onde cumpriu bem os estudos secundários, com os sonhos sempre em primeiro plano. O ano de 1947 o reconduziu ao convívio com as origens grapiúnas, com os orvalhos da mata atlântica, e arredores do Rio Cachoeira. E logo surgiu, neófito e predestinado, na imprensa local, o exímio jornalista: colaborador e editor do semanário Voz de Itabuna – e mais adiante correspondente de importantes jornais de Salvador. Inaugurado o caminho, eis os acenos das estradas, os chamados do Sul. Em 1953, o jovem Hélio enxergou entre as colinas pétreas, do Corcovado ao Pão de Açúcar, o vasto mundo de gentes e máquinas, onde assentar seu ofício e sua arte. O Rio de Janeiro continuava lindo e profícuo, mesmo antes da famosa canção de Gilberto Gil. Ali, o curso universitário, em Direito, e o início do duplo ofício em um só: o jornalista escritor, o escritor jornalista, – tão distintamente caracterizado, cada qual ciente da especificidade e das aproximações de ambos os discursos manejados com talento visceral. E foram trinta anos cariocas, de intensa vida jornalística e literária, – saga que continua, atualmente na Bahia desde 1984, data de seu retorno pródigo, com uma produção tão intensa e marcante, cronista dos viveres, aconteceres e pensares, – voz que ecoa na sua geografia afetiva: Itabuna, Ilhéus, Salvador. 
      A aurora do escritor de altíssima pena viria tão cedo como o sinal dos galos. E surge, em pleno terreiro das areias janeirenses, o seu consagrado livro de estreia, Os galos da aurora. E saiu do prelo da prestigiosa editora Civilização Brasileira, no bendito ano de 1958, aquele que um jornalista arguto já afirmou em livro que não devia acabar.  O livro correu o país, com capa e ilustrações expressivas de Barboza Leite. E veio se arranchar, através de alguns volumes, nos entrechos das quebras de cacau e das estantes domésticas. Eu afirmo, porque foi assim – e  não evito registrar – que chegou às mãos da jovem professora Lourdes Santana, no mesmo ano, e, de seu convívio, em 1968 passou às mãos de seu filho de oito anos, por nome Aleilton Fonseca, que – de fiel leitor de Monteiro Lobato, irmãos Grimm e Esopo, – o leu de uma visada, por próprio impulso à estante escassa da casa materna. E o leu, em leitura inesquecível e revisitada, pois foi o primeiro livro de literatura para leitor adulto que conheceu. E o menino encantou-se com as narrativas, mais longas e densas, cheias de atmosfera e presságios, todavia situadas num mundo extremamente familiar. O pequeno leitor reconhecia nas páginas do livro os nítidos traços do contexto grapiúna, como se os contos se passassem nos fundos do grande quintal de sua mãe, onde ele lia à sombra de coqueiros, mangueiras e cacaueiros, à beira de um rio cauteloso e seus belos manguezais. Inesquecível aventura. De fato, como esquecer a tragédia do conto “A velha Joana”, a pobre Vevéia desaparecida entre as chamas que consumiram o seu casebre? A pena do narrador ateava a palavra fogo à palavra casa, – e iluminava a imaginação do leitor em suas primeiras andanças pela prosa de gente grande. A narrativa fluía, crepitava: “Quando deram fé a casa era uma fogueira grande, de São João, queimando com muita pressa, uma beleza de fogaréu espantando a noite para o mais denso dos cacauais. (...) Os cacaueiros em redor tremiam num choro sem lágrimas”.
      Hélio Pólvora brilhou. Festejado pela crítica, os galos da aurora abriram a Pólvora um rastilho fecundo de contista refinado, senhor da palavra exata, estilista da frase peculiar, aliciador de temas fortes, alquimista da ironia mais fina, do humour mais ácido e gracioso, que soube herdar da botica machadiana. Leitor e parceiro de mestres como Edgar Allan Poe, Tchecov, Machado, Maupassant, é dessa estirpe de estilistas e fundadores que faz parte o contista contemporâneo Hélio Pólvora. Fez-se um Mestre que amalgama em sua lavra as qualidades da narrativa curta, conforme as lições de seus predecessores. Ouso afirmar que, com perspicácia, tirocínio e desprendimento, é possível reconhecer e fixar uma contística heliana na literatura brasileira. Seu estilo próprio e inconfundível se estende desde a aurora de sua arte de narrar até os arrebóis mais recentes, com a maestria reconhecida, reiterada e confirmada pelos melhores leitores do gênero.
      O lugar relevante da obra heliana confirma-se na trajetória de cerca de vinte e oito títulos, abrangendo crônica, conto, romance e crítica literária, além da presença em várias antologias nacionais e estrangeiras, com traduções em espanhol, inglês, francês, italiano, alemão e holandês. 
      Jornalista, sua crônica atinge a excelência da forma, pelo impacto no leitor, pela clarividência aplicada aos fatos, pela ironia da visão crítica.      Semanalmente, nas páginas do jornal A Tarde, podemos meditar sobre seus artigos de opinião e refletir sob os efeitos de suas crônicas lapidares. Escritor, sua crônica extrapola o limite de Cronos, constituindo-se como peças literárias que migram do jornal para o livro, estendendo-se dos hebdomadários para as bibliotecas. No livro Um pataxó em Chicago (1994), lemos belas crônicas de viagens e perquirições pela vida e pelo mundo, de um narrador que tenta compreender e questionar a condição humana, a partir de sua própria trajetória cultural. Na coletânea De amor ainda se morre (2003) temos crônicas saborosas e instigantes pelo insólito das situações, pela linguagem desabusada de narradores que nos movem pelo riso e nos comovem pela afetividade para com as suas personagens.
      Da maestria da crônica e do conto, era de se esperar o advento do romance de Hélio Pólvora. Diz a sabedoria popular, com acerto, que aquilo que tarda vem no caminho. E os romances vieram, em dose dupla de virtudes e caprichos de um prosador intenso e maduro, consciente de todas as flexões do verbo narrar. Seu primeiro romance, Inúteis luas obscenas, veio a nós em 2010, e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura. Um ano depois, encontramo-nos com o romance Don Solidon, escrito em quatro meses, com a maestria de décadas de ofício. São romances que prendem a atenção do leitor, ao oferecerem um concerto de vozes e focos narrativos, fazendo jus à polifonia dostoievskiana, dínamo propulsor do moderno romance ocidental. O cronista, o contista, o romancista: facetas do mesmo talento, da mesma técnica, do mesmo estilista, com efeitos e propósitos estéticos específicos. 
       Como leitor e escritor, confesso que nutro predileção pelo livro Os galos da aurora (1958) por sua grandeza inaugural, revelando o grande escritor que surgia no conto brasileiro; e pela epifania inaugural do leitor que surgia em mim, para se tornar um dia escritor e professor de literatura. Em 2003, quarenta e cinco anos depois, veio a lume outro livro de minha predileção, a obra-prima intitulada Contos da noite fechada, um dos mais felizes lançamentos da Editus – Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz, então sob o comando insuperável de Maria Luiza Nora. Sobre este livro, que admiro e recomendo, tive a oportunidade de externar minhas observações de leitura.
      Eu afirmei e sustento que “Pólvora é um contista que não abre mão do enredo bem delineado, nem exercita experimentalismos inócuos. Percebe-se que sua formação vai desde os clássicos, passando pelos grandes contistas modernos, com destaque para o nosso Machado de Assis, até os contemporâneos que renovam o conto,  mas sem o levar à descaracterização formal.
      Após ler sua obra com cuidado, destaquei: “Hélio Pólvora opera a síntese perfeita do modo definido da narrativa clássica com os efeitos narrativos modernos que resultam do manejo do foco narrativo, em que o narrador não apenas conta a história, mas o faz consciente de que a grandeza do gênero curto reside na forma mesma de narrar. Expressivo elemento de composição, as surpresas, súbitas revelações, revigoram o enredo e fazem parte da própria concepção da narrativa. Elas enredam estrategicamente o leitor e dão fôlego ao texto, além de motivarem o próprio autor em seu trabalho de ficcionista”.
      E também afirmo que “em cada conto de Pólvora, o narrador conduz os passos da trama com intimidade, senhor dos fatos, dos enredos e dos desfechos, na dosagem exata, com andamento bem ajustado. Seus contos são exemplos de técnica, de adequação, de ritmo, de marcação temporal e de jogo dialógico. Neles as informações se adensam num movimento contínuo, concentrando sentidos para instaurar efeitos de leitura e de compreensão, como fluxo revelador que impressiona e provoca a reflexão”.
      Por tais feitos, o nome e a fama se amoldam. E o escritor grapiúna se viu merecedor de láureas e honras. Recebeu duas vezes o Prêmio Bienal Nestlé de Literatura: ode 1982, pelo livro de contos O grito da perdiz, coletânea de contos memoráveis pela fatura estética; e o de 1986, para o admirável Mar de Azov, com um belíssimo conto-título, insuperável pela leveza que imprime à difícil relação pai e filho. Antes, recebeu o prêmio da Fundação Castro Maya, para o livro Estranhos e assustados, e o do Jornal do Commercio, para Os galos da aurora.
      Entre as honras, avulta o título de Doutor honoris causa outorgado por nossa querida Universidade Estadual de Santa Cruz, onde sua obra costuma ser estudada e sua voz ouvida com admiração, em eventos tempestivos e fecundos.
      A Academia de Letras da Bahia lhe destinou por assento de imortalidade a cadeira 29, para agradável convívio com os seus pares, que o leem e o admiram pela representatividade baiana de sua obra no panorama da literatura nacional. Na Academia de Letras do Brasil, sediada em Brasília, ocupa a cadeira 13, lugar de sorte sob o patronato de Graciliano Ramos. Havia de ser profeta em sua terra, mudando a ironia dos ditados populares. E então, eis que Hélio pertence à Academia de Letras de Ilhéus, situada em rua vizinha a de Gabriela Cravo e Canela e próxima a do jovem Jorge Amado e Sosígenes Costa.
      A Academia de Letras de Itabuna, ao erguer-se em recente fundação, outorgou-lhe a cadeira que o dileto filho da cidade inaugura, transmitindo-lhe a energia de sua obra, o seu brilho, a sua personalidade. A cultura grapiúna festeja seu filho: escritor, jornalista, tradutor, editor, ensaísta e crítico. Mais que isso, um homem de sua terra, desde o início e agora e sempre: um autor itabunense, grapiúna, baiano, brasileiro e universal. O escritor e jornalista Hélio Pólvora, o homem que lavra a terra com palavras, nos plantios da fazenda das letras.


Aleilton Fonseca
Salvador e Ilhéus, 18 e 19 de abril de 2013.



DISCURSO DE POSSE DA MESA DIRETORA DA ACADEMIA
DE   LETRAS DE ITABUNA  - BIÊNIO 2013/2014   




Sônia Maron


Ilustres componentes da mesa que honram nossa reunião   solene de posse, permitam-me escolher para representá-los na saudação de praxe, os nomes de Andirley Nascimento e Altamiro Conceição Oliveira, respectivamente presidente da subseção da OAB e Capitão da Polícia Militar diretor adjunto do Colégio Militar de Itabuna, não pelos títulos que hoje ostentam, mas pelo fato de representarem meus ex-alunos, aos quais considero uma “categoria especial de filhos”; meus filhos, genro, nora e netos, senhores convidados, meus caros confrades e confreiras:


       Minhas primeiras palavras, neste momento, não foram inspiradas na obra de nenhum escritor consagrado, nem de alguém agraciado com títulos de mestre, doutor ou PhD. São palavras simples, revestidas de sabedoria, a sabedoria daqueles que vivem peregrinando em nome da paz e da fraternidade. Iniciando um novo biênio, preferi a inspiração de um texto que nos leva a refletir que a sabedoria prescinde de fardões, colares, capas, currículos recheados de livros, mestrados, doutorados e outras láureas.É simplesmente a essência de tudo de bom e positivo captado do viver que viabiliza nossa convivência com o próximo, melhor dizendo,  com todos os companheiros de jornada. E nossa bagagem para percorrer o caminho é permanecer alerta em todo o percurso, afastando os obstáculos para facilitar o acesso daqueles que caminham ao nosso lado ou atrás de nós, seguindo nossos passos e aprendendo com o nosso exemplo. As palavras que anunciei como reflexo da sabedoria, foram escritas pelo DALAI – LAMA quando se refere à plenitude da vida  e à conquista da felicidade. Diz o líder dos budistas que não há nada de misterioso nesse projeto, que “Consiste apenas em levar os outros em consideração. E se você fizer com sinceridade e persistência, pouco a pouco, passo a passo, será capaz de reordenar seus hábitos e atitudes e pensar menos em seu pequeno mundo e mais nos interesses de todas as outras pessoas. E encontrará a paz e a felicidade para si mesmo”. Em outras palavras, é dando que se recebe, fórmula mágica para a convivência entre seres humanos, gregários por natureza, tão frágeis que não conseguem viver sozinhos e precisam da harmonia e da união para cumprir sua trajetória na vida social.
       As instituições como nossa academia nascem e são constituídas voltadas para o bem comum, visando objetivos nobres e    revelados através de projetos que transcendem a vaidade pessoal. A convivência pacífica entre os membros e o êxito do ideal que reuniu um grupo de amigos, como é o nosso caso, estão estreitamente ligados à humildade e ao verdadeiro sentimento de fraternidade. A propósito, o site da Academia Brasileira de Letras oferece um texto de Arnaldo Niskier nos seguintes termos: “Academia é convívio, estão condenados a conviver para o resto da vida” e prossegue o confrade da academia-mãe, dizendo que “importa em renúncia a personalismos ou ao exercício de atitudes de arrogância  ou prepotência”. Acrescentaria à oportuna reflexão do famoso acadêmico que a vida em grupo implica, também, em doação e tolerância. Parafraseando Fernando Pessoa, em seu verso tão conhecido, lembraria que “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.  Felizmente o pequeno grupo  que vem lutando pela sobrevivência da ALITA não é composto de pessoas de alma pequena. O nosso sonho é reinventar a noção de academia de letras, levando sua mensagem ao jovem, fazendo germinar a semente que servirá para revitalizar a cultura de uma cidade tão sofrida, condenada a não preservar sua memória, o que  leva a não cultuar o respeito ao seu passado e às suas tradições. É defeso aos filhos de Itabuna -  como o são, quase todos, nesta instituição - cultuar a imagem de uma casa como esta funcionando como uma “torre de marfim”, onde pessoas de meia idade ou idosas disputam entre si quem escreveu o maior número de livros, quem é detentor do número maior de prêmios, quem figura como campeão de obras publicadas em outros idiomas, láureas que não são transmitidas a quem precisa de conhecimento, nem podem servir de epitáfio se considerarmos o espaço reduzido das lápides modernas. Tentamos cumprir a trajetória que traçamos e deixaremos como legado aos jovens, emissários do amanhã, que será melhor e mais justo: o amor à cultura no seu sentido mais amplo e a busca permanente do saber, convencendo-os de que o conhecimento é um desafio permanente e enriquecedor.
      A sucessão de dirigentes é exigência do sistema democrático e como nossos objetivos são comuns, não existe hierarquia ou disputas por cargos ou encargos, como é comum na vida pública, até porque nossa mesa diretora tem apenas um biênio de duração, melhor dizendo, nossos cargos não são e não podem ser vitalícios e é bom que seja assim, em sadia alternância.    Somos uma modesta sociedade de direito privado, sem fim lucrativo, onde presidentes,  vice-presidentes e diretores de diferentes setores administrativos vivem em parceria e harmoniosa convivência, sem a preocupação do “tome lá e dê de volta”. Graças a Deus não temos nada para dar, a não ser nosso exemplo de que é possível executar um trabalho  comum para servir à comunidade que nos acolhe; cada um de nós, lúcidos que somos, reconhece, dentro de sua aptidão intelectual e profissional, o melhor meio de prestar a colaboração adequada ao crescimento do sonho já transformado em realidade.
     O sonho de uma academia de letras em Itabuna, para o nosso grupo, tomou forma quando foi escolhida a primeira mesa diretora, em março de 2011. O primeiro presidente, Marcos Bandeira, teve o nome indicado por um dos confrades, Cyro de Mattos, sob a alegação de que seria o melhor pela capacidade de “blindar” a academia, declinando a escolha unânime do seu  próprio nome. Não se referia, com absoluta certeza, ao cargo de Marcos, um juiz de direito. Estava implícito, em sua observação, que um cargo decorrente da aprovação em um concurso público de provas e títulos não acrescentaria muito ao caráter reto e límpido de Marcos  Bandeira.  Significava que a aprovação ao nome de Marcos protegeria a academia pelas virtudes que ornam seu caráter de cidadão de conduta ilibada e elevado saber jurídico, como determina a Constituição para compor a Suprema Corte. Acrescente-se, ainda, que  nosso presidente emérito consegue aliar ao conhecimento jurídico a cultura humanista, a sensibilidade e comprometimento com o drama social, no tocante à sua maior chaga: a  criança vulnerável e abandonada pelo poder público que dissimula a realidade de um país sem educação, sem saúde e sem segurança,  caminhando a passos largos para a perda dos seus valores morais e éticos. Nesse caos em que vivemos, nosso presidente emérito conduz uma Vara da Infância e Juventude colaborando efetivamente para a recuperação de jovens portadores de desvios de conduta, enfrentando dificuldades materiais incalculáveis, sem perder a esperança, sempre vislumbrando uma luz no fundo do túnel da indiferença e da irresponsabilidade. O nome de Marcos Bandeira foi  e sempre será o indicado para conduzir qualquer instituição que necessite, para  sobreviver, de alguém que não perdeu a capacidade de sonhar e de indignar-se. E nós temos a sorte de contar com seu entusiasmo e colaboração, sem falar na postura de serenidade e equilíbrio que nos conduziu a salvo até este momento. Para enfrentar o pesado e quase impossível encargo de substituí-lo, posso apenas pedir que “rezem por mim”, repetindo a inspirada lição do Papa Francisco.
     Associei, muitas vezes, a idéia de sonho à existência da nossa academia de letras. Não posso encerrar minha manifestação sem registrar quando e onde nasceu nosso sonho. Teve início no século passado, quando um grupo de bacharéis em direito, unidos por estreitos laços de amizade e de amor por esta região, resolveram  criar a Faculdade de Direito de Ilhéus e na década de sessenta foi proferida a aula inaugural em 2 de março de 1961: Soane Nazaré de Andrade, Amilton Ignácio de Castro, Francolino Gonçalves de Queiroz Netto, José Cândido de Carvalho Filho, Jorge Fialho, Wilson Rosa da Silva, Acioly da Cruz Moreira, Manoel Targino de Araújo, Altamirando de Cerqueira Marques e outros. Itabuna, por sua vez, criou também suas faculdades de Filosofia, Economia e Administração, onde tinham destaque nomes como Litza Mary Modesto Câmera, Delile Oliveira, Valdelice Pinheiro, Érito Machado e tantos outros sonhadores. Em 1974, consumou-se a fusão dessas casas de ensino superior em uma Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna, de caráter particular. Vencidas muitas crises, a única solução, à época, encontrada para não morrer o sonho do ensino superior em nossa região, foi a estadualização: surgiu a  UESC, Universidade  Estadual de Santa Cruz, designação há muito tempo escolhida por um dos fundadores, segundo Valdelice Soares Pinheiro, “o homem que sabia sonhar,” que ela imortalizou em um poema dedicado a Soane Nazaré de Andrade. Se os informes históricos não estão corretos, submeto-os à crítica da Profª Drª Janete Macedo e afirmo que são irrelevantes para o fim colimado, visto que são apenas detalhes necessários para proclamar que a ALITA é, basicamente, a FESPI e a UESC. É a prova incontestável que a educação no sentido mais amplo, responsável e competente é o único caminho para a redenção de um país.
     Partilho o privilégio de ser ex-aluna da FESPI e ex-docente da UESC, com  a maioria dos membros desta academia de letras. Como ex-magistrada criminal, não dispenso a prova material  e cito os nomes: Ruy Póvoas, Marcos Bandeira, Maria de Lourdes Simões (Tica), Lurdes Bertol  Rocha, Ceres Marylise Rebouças, Margarida Fahel, Carlos Valder, Dinalva Melo, Raimunda Assis, Janete Macedo, Jorge Batista, Silmara Oliveira, Carlos Eduardo Passos, Ary Quadros, Gustavo Veloso, Maria Luiza Nora, Luiz Bezerra, Maria Palma Andrade, Marialda Jovita, Rilvan Santana. Se ocorreu alguma omissão será sempre no sentido de que seja acrescentado mais um com a mesma origem. Esta academia, meus amigos, tem a doce melodia dos poemas de Valdelice Soares Pinheiro, e como exemplo ficam os versos do poema “Para um homem que sabe sonhar” dedicado a Soane Nazaré de Andrade, que também figura entre nossos confrades:
 
“Cada espaço deste chão
cada folha, cada flor, cada árvore,
cada ave que pousa ou passa por aqui
na expressão do vôo,
o sonho livre da asa;
cada pedra,
cada grão de cimento,
cada prédio,
 cada sala, cada voz nessas salas,
como que dizendo,
na extensão do tempo,
  o sonho de sempre
 que o tempo não leva;
cada coisa, enfim,
    e cada destino
   e cada passo
   e cada gesto
  guardam a presença
   de seu sonho confirmado
   na expansão infinita da semente
   para a verdade do fruto
   que já se colhe aqui”

Valdelice – 31.07.1985


       Respondeu Soane, em 1994, na cerimônia de aniversário da Universidade: “O passado se insere no presente. Até nossos mortos convivem conosco e não raro apontam-nos o caminho. Quem ousaria dizer que Valdelice está morta? Valdelice está aqui. Sinto-a por inteiro no espírito e na força da Universidade, não só no Centro de  Estudos Filosóficos Valdelice Soares Pinheiro, mas em cada pessoa, em cada espaço, em cada matéria deste Campus – todo ele espírito de Valdelice. Temos todos, queiramos ou não, um compromisso com a História. Um compromisso com a eternidade. Porque a Universidade de Santa Cruz viverá por todos os tempos, enquanto vida houver neste chão abençoado do universo que é nosso planeta Terra.”
       Agradecemos, mais uma vez, à FTC, nossa parceira do primeiro momento, representada pelos educadores Profs. Cristiano Lobo e Raildes Pereira, que repetem o verso de Castro Alves “bendito o que semeia livros, livros, à mão cheia e faz o povo pensar...”; aos confrades Ceres Marylise Rebouças e Jorge Batista, respectivamente vice-presidente e diretor de ações culturais neste novo biênio, responsáveis pela beleza e requinte desta festa; à Filarmônica Euterpe Itabunense, nossa nova parceira; à Profª Maria Luzia de Mello, geógrafa com mestrado em Meio Ambiente, também nossa parceira, coordenadora de uma instituição que idealizou denominada  Centro das Águas – Espaço Cidadão, dedicada a estudos pela revitalização do Rio Cachoeira, instituição  que aguarda da sociedade organizada o apoio necessário à defesa de iniciativas desse porte; agradeço, particularmente, a LINDAURA BRANDÃO DE OLIVEIRA, responsável por minha formação da alfabetização ao curso médio de magistério, educadora incomparável de inúmeras gerações desta pobre cidade amnésica e que deixou a prova material de sua passagem por esta dimensão em um prédio modesto, na rua São Vicente de Paula, recentemente destruído por ser considerado descartável graças à ação daqueles que não alcançam o significado do patrimônio imaterial, que não é mensurável, nem passível de estimação econômica e que consegue o milagre de transformar um país em nação; também agradeço, pessoal e carinhosamente, a Maria Célia Midlej, parceira e amiga querida de todos os momentos, em quase seis décadas de cumplicidade e a Ana Maria Aquino, com o mesmo tempo de serviço em minha vida e em meu coração, amiga de todos os momentos, como Maria Célia, ambas emprestando o toque especial de suas mãos, com a sensibilidade, inteligência e solidariedade que definem o perfil de verdadeiras cidadãs e damas da sociedade itabunense.
      Com a devida vênia dos confrades e confreiras de universidades consagradas, respeitados e famosos, que honram esta academia com seus nomes e suas obras, nós, da FESPI e da UESC somos o corpo e alma da ALITA e os convidamos a  seguir viagem. Nossos mestres deram a partida. E com a paz no coração, vamos embora!







NOVA MESA DIRETORA DA ALITA PARA O BIÊNIO 2013/2014
 


Presidente – Sônia Carvalho de Almeida Maron

Vice-Presidente – Ceres Marylise Rebouças de Souza 

1ª Secretária – Lurdes Bertol Rocha

2º Secretário – João Otávio de Oliveira Macêdo

1º Tesoureiro – Rilvan Batista de Santana

2º Tesoureiro – Gustavo Fernando Veloso Menezes

Diretor da Biblioteca – Cyro de Mattos

Diretor da Revista GURIATÃ – Ruy do Carmo Póvoas

Diretores de Arquivo – Marcos Antônio Santos Bandeira e Carlos Eduardo Passos

Diretora de Projetos de Pesquisa – Janete Ruiz de Macêdo

Diretor de Ações Culturais – Jorge  Luiz dos Santos Batista

Diretores de Comunicação – Antônio Lopes e Sione Porto