2 DE JULHO - DIA DA INDEPENDÊNCIA DA BAHIA PASSA A SER DATA NACIONAL. MATÉRIA APROVADA SEGUIU PARA SANÇÃO PELA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


       O Plenário do Senado aprovou ontem em votação simbólica o projeto de lei da Câmara (PLC 61/2008) que oficializa o Dois de Julho como data histórica no calendário nacional.
      O movimento de independência na Bahia que começou em 1821 e terminou em 2 de julho de 1823, é considerado um precursor da independência nacional, que viria em 7 de setembro de 1822. Ao contrário da proclamação pacífica no Ipiranga, o movimento baiano teve grande participação civil na luta pela independência brasileira.


RELEMBRANDO NOSSA HISTÓRIA



ODE AO DOUS DE JULHO

Castro Alves


Era no dous de julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
"Neste lençol tão largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto do infinito...
O mundo perguntava erguendo um grito:
"Qual dos gigantes morto rolará?!..."
Debruçados do céu... a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado...
Era a tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma-o vasto chão!
Por palmas-o troar da artilharia!
Por feras-os canhões negros rugiam!
Por atletas-dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!
Não! Não eram dous povos, que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado...
Era o porvir-em frente do passado,
A Liberdade-em frente à Escravidão,
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso-contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva-e do clarão!...
No entanto a luta recrescia indômita...
As bandeiras — como águias eriçadas —
Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz...
Tonto de espanto, cego de metralha,
O arcanjo do triunfo vacilava...
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!...
Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço... e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina:
Eras tu— Liberdade peregrina!
Esposa do porvir-noiva do sol!...
Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide,
Formada pelos mortos de Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito...
Um trapo de bandeira — n'amplidão!...






Cortejo: Dois de Julho em Salvador - 1923

       Mesmo após o Sete de Setembro, os portugueses se recusavam a deixar a Bahia e continuavam mandando e desmandando.
     O confronto estava nas ruas, ocupado pelo governador militar português, Inácio José Madeira de Mello, o ”Madeira Podre”, como os baianos o chamavam. Salvador estava cercada por tropas leais ao Reino e nosso exército, pobre, desarmado e faminto, teve que se valer de mercenários que lutavam por dinheiro e da população humilde, mas destreinada, que lutava por amor e convicção.
      Depois que as tropas de Madeira invadiram o Convento da Lapa, matando o Capelão e a Madre Abadessa Joana Angélica, que saiu em defesa do Convento, os ânimos acirraram-se mais ainda e o cerco aos portugueses se intensificou. A luta espalhou-se pelo Recôncavo, rica região açucareira e fumageira, banhada pelo Rio Paraguaçu, encabeçada por Cachoeira, ”A Heróica”, elevada a capital oficiosa da Bahia; de lá, partia a resistência.
     Vindas do interior, pessoas simples, como os vaqueiros conhecidos como ”Encourados de Pedrão", os sertanejos que formavam o batalhão do Príncipe ou Batalhão dos Periquitos, por causa do verde e amarelo das fardas, criado pelo avô do poeta Castro Alves, José Antônio da Silva Castro, o Periquitão,  tiveram um papel preponderante na nossa vitória.
     Homens como Pedro Labatut, o Almirante inglês Lord Cochrane e Barros Falcão concretizaram nossa independência expulsando os lusos que eram cerca de 60.000 homens  contra 2.500 homens nossos, mal armados e mal alimentados, mas cheios de um fogo que não se apagava, o amor pela pátria nascente e o desejo de liberdade.
     Desse grupo surgiu a fantástica figura de Maria Quitéria de Jesus Medeiros, mulher analfabeta, filha de português, que alistou-se no exército vestida de homem e que com seu pequeno grupo aprisionou Trinta Diabos, um capitão de Madeira, temido por todos pela violência e maldade, numa refrega na Ilha de Itaparica. Ao levá-lo a Barros Falcão,este lhe disse,assustado: 

     -Mas,é o Trinta Diabos!? 
      Ela falou:
     -E eu sabia? Prá mim era só um maroto inimigo. 
     Uma palavrinha sobre um quase garoto, magrinho e analfabeto, sem nenhuma experiência militar, que definiu a guerra: Luís Lopes. Era o corneteiro da tropa. Ao ver tantos portugueses reunidos na Colina de Pirajá, Barros Falcão, prudentemente ordenou o recuo e mandou tocar: Cavalaria, recuar! 
Lopes, atrapalhado tocou: Cavalaria, avançar! 

    -Mandei  recuar, imbecil; disse Falcão. E Lopes tocou: Cavalaria, degolar! 

     Madeira, assustado, pois sabia do abraço dos patriotas de Cochrane que abarcava a Pituba pelo lado esquerdo e Pirajá pelo direito, mandou tocar retirada completa e a tropa debandou, desesperada: era como atirar em pombos; eles nem se defendiam mais.
     Com a fuga de Madeira e seus asseclas para Lisboa, perseguidos por Labatut até a foz do Tejo, o Brasil estava finalmente independente. 







Fonte:jornalgrandebahia.com.br