Aquarela brasileira

                               
                                          Sônia Carvalho de Almeida Maron*         

 
                           A necessidade de pensar é que nos faz pensar.
Theodor W.Adorno
                                                                                             
Na última semana de maio aconteceu um fato inusitado neste Brasil que “dorme eternamente em berço esplêndido”: nas imediações do palácio do planalto, índios, de arco e flecha, cocar de penas coloridas, saiotes de sisal e demais apetrechos,  atacavam soldados da unidade de cavalaria da Polícia Militar do Distrito Federal. Fizeram tudo que tinham direito, inclusive atirar flechas, atingindo um dos PMs. Diz a imprensa que o soldado não morreu, foi apenas lesionado. E que importância teria se morresse? Os índios, na realidade brasileira, adquiriram o atributo conferido a Deus: são onipotentes, além de intocáveis e inimputáveis.

O mito do índio, como um homem puro e em harmonia com a natureza, desapareceu há muito tempo. Em verdade, a pureza dos donos da terra brasileira que recepcionaram Pedro Álvares Cabral permanece apenas nos livros da história do Brasil politicamente correta. Não se pretende negar o direito à preservação de sua cultura e demarcação justa e coerente de suas reservas, hipótese sempre adiada pelo poder público que atropela a Constituição ao  desprezar a propriedade privada. O lamentável, sobretudo, é o estímulo às  manifestações de vandalismo, crimes contra a pessoa, desordens  e desprezo às leis vigentes e alicerces do estado democrático de direito. No caos instalado é preciso devolver ao passado os personagens de José de Alencar, trazendo ao palco não somente o índio aculturado, adaptado aos costumes do seu país, como são exemplo o cacique Juruna, ex-deputado federal e Marcos Terena, líder de sua tribo, culto, piloto da FAB apesar dos obstáculos que enfrentou. É preciso trazer ao palco o lado negativo que o índio apresentou impunemente, trazendo à colação o cacique da tribo Caiapó, Paulinho Paiakan: comerciante de madeira bem  sucedido, proprietário de um monomotor que ele mesmo pilotava, em junho de 1992 quando acontecia a ECO 92, estuprou a estudante Sílvia Letícia da Luz Ferreira. Condenado em última instância à pena de seis anos, consta ter cumprido dois anos em prisão domiciliar na aldeia. Outro exemplo do lado obscuro dos nossos irmãos índios/brasileiros é o “cacique” Babau... Apontado como autor ou mandante de crimes, é preciso que a verdade seja investigada sem interferências e o processo siga o curso normal, reservando-se ao culpado o tratamento igualitário dispensado a todos que cometem graves desvios de conduta.

É necessário pensar, como afirma o sociólogo e filósofo Theodor Adorno, expoente da conhecida escola de Frankfurt. Pensar antes que seja tarde. Sem ódio, acusações infundadas, ideologias de ocasião, dissimulação, mentiras convenientes. Simplesmente pensar que estamos perdendo até mesmo o entusiasmo de gritar GOOOOOOOOOOL!... Neste nosso país do futebol e do Carnaval que diz proteger as minorias oprimidas, morrem índios, negros, brancos e mestiços nas filas do SUS; cidadãos inocentes tombam nas ruas vítimas da guerra entre facções criminosas; as proclamadas minorias que chegam à universidade sem esquentarem as carteiras das salas do ensino fundamental, aprovadas seja como for, para figurar nas estatísticas. E como se não bastasse, crimes hediondos não são crimes quando praticados por pessoas com 17 anos e alguns meses ou por pessoas que se auto declaram “índios”. Se este é o Brasil de todos nós, o que será dos cidadãos brasileiros?


                       *Presidente da Academia de Letras de Itabuna – ALITA
 Juíza de Direito aposentada do TJ-Ba