R. Santana
A escola ensina literatura, mas
não faz literatura. O poeta e o romancista podem prescindir de algumas técnicas
de redação e verso sem prejuízo da poesia e da prosa. Literatura se aprende na
escola, mas fazê-la é um dom de poucos. Jamais se forjará nos bancos escolares,
poetas e romancistas da grandeza de Homero, Shakespeare, Camões, Machado de
Assis, Dostoievsky, Hemingway, Goethe, Fernando Pessoa, Julio Verne, e tantos
outros que as páginas literárias registram e de conhecimento do leitor bem
informado.
Porém,
potenciais poetas e escritores foram apagados pela ação do tempo e dificuldade
de acesso ao reduzidíssimo meio de comunicação em tempos
remotos. Hoje, existe facilidade de divulgação para o autor,
independente da boa ou má qualidade de sua obra.
Com o advento da tecnologia Internet
nos anos 70, durante a Guerra Fria e popularizada nos anos 90, nas escolas, nas
universidades, nas pesquisas, nas empresas, nas residências e nas redes
sociais, o processo divulgação de uma obra literária deixou de ser uma
atividade hercúlea.
Um livro de poesias ou um romance,
por exemplo, não faz muito tempo, levaria anos pra ser impresso, editado,
divulgado, distribuído nos pontos de venda e lido. Atualmente, com os programas
computadorizados de Word e PDF, o texto é digitado, processado, armazenado e
enviado para milhões de pessoas em tempo recorde.
Por
outro lado, a enorme quantidade de informação e a escassez de tempo de nossos
leitores contribuem para que obras-primas sejam jogadas no lixo eletrônico
enquanto textos fúteis, apelativos, oportunistas, mas de interesses imediatos,
tomem lugar na literatura e no gosto das pessoas.
Ninguém
pode negar os benefícios e a democratização dos meios de comunicação em todos
os segmentos da atividade humana, entretanto, ninguém pode negar a saturação da
atividade literária de autores e obras. Hoje, existe na literatura
brasileira e estrangeira, uma enxurrada de autores de verso e prosa,
geralmente, qualificados nas técnicas da língua, mas sem vocação e
criatividade. Poetas e escritores tupiniquins, canastrões da arte com fumos de
intelectuais brilhantes, que devem ser considerados mais pelo esforço e vontade
de escrever do que pelo uso correto da palavra e a capacidade de transformá-la
em prosa e verso.
Claro
que a tecnologia da Internet não dispensa o talento, a boa ideia, a imaginação,
a ficção, a criatividade, além da capacidade do escritor colocar tudo no papel
e transformar a palavra em literatura. O acesso às bibliotecas virtuais, aos
dicionários digitais, á gramática digital e aos sites de conteúdos específicos,
contribui e facilita a vida e o desempenho do escritor, mas o acesso às novas
tecnologias, somente, não dá vida ao texto se o escritor não tem vocação e
talento, se ele não possui percepção diferenciada do mundo e sensibilidade
aflorada.
Tecnicamente
se define Internet: “...qualquer conjunto de redes de computadores ligadas
entre si por roteadores e gateways, de âmbito mundial,
descentralizada e de acesso público, cujos principais serviços oferecidos são o
correio eletrônico (e-mail), o chat e a Web etc.”, portanto, é condição sine qua non para explicar as
novas tecnologias da escrita que se mencione o computador. A Internet não teria
razão de ser se não houvesse o computador nas mais diferentes formas - a
recíproca é verdadeira.
O
computador é uma máquina diferente da antiga máquina de escrever, “recebe
informação, armazena, envia dados, faz sobre estes, sequências previamente
programadas de operações de aritmética (cálculos), de lógica (comparações), com
o objetivo de resolver problemas”, portanto, lamenta-se que alguns escritores
resistam usar essa tecnologia, o caso mais notório é do imortal da ABL,
Gilberto Freyre, que se recusava aprender a nova tecnologia da informática e
escreveu sua extensa obra social e antropológica a bico-de-pena.
Faz-se
necessário dizer, agora, que não houve deste autor, nenhuma pretensão de
censurar, julgar, criticar, classificar esta ou aquela obra, apenas, chamar a
atenção para proliferação desordenada duma cultura fútil e sem significado, em
cadeia, que inunda os meios intelectuais e confunde a cabeça de crianças,
jovens e adultos malformados, a Internet peca, somente, por não possuir
mecanismos para separar o joio do trigo e coloca tudo no mesmo saco da
literatura.